Sernancelhe é a Terra da Castanha

Sernancelhe é a Terra da Castanha

"(...)Nas margens das terras do Demo, esta terra tem, às vezes, ares de paraíso, junto ao Rio Távora com suas águas mansas, hortas, pomares, vinhas que lembram quase os mimosos hortos dos Conventos que lá houve. Na montanha cresce urze, a giesta, o pinhal, rosmaninho e alecrim para alimento das abelhas, ramos de Domingo de Ramos e fogueiras de São João. Nas encostas há castanheiros centenares que vicejam em fim de Junho, dão sombra gloriosa no mês de Agosto e em Outubro enchem rasas de castanhas que são as melhores castanhas do mundo. Os camponeses fazem magustos com elas em Novembro e com vinho novo. Depois são alimento como antigamente. E são moeda forte numa economia que ainda depende dessa Terra-Mãe, dos braços dos seus filhos, da sorte da Natureza (...)".

Poucas palavras seriam necessárias para complementar a brilhante descrição que o nosso conterrâneo Aquilino Ribeiro fez na sua obra "Terras do Demo" para explicar o que é o castanheiro, o que representa em termos socio-culturais e a importância que sempre teve na economia sernancelhense. Porém, há um evento que faz jus a este fruto e que, a cada ano que passa, define-se como uma homenagem autêntica de um povo à mãe natureza. É a Festa da Castanha, uma iniciativa que perdura há duas décadas e que atingiu, este ano, um patamar de excelência graças sobretudo às infra estruturas existentes, ao empenho das juntas de freguesia, aos produtores, à autarquia, às empresas e a todos quantos se empenham na sua concretização.

Durante três dias, Sernancelhe comprova que é mesmo a Terra da Castanha e que o é por mérito próprio. Com o beneplácito de São Pedro, a chuva deu lugar a um sol resplandecente, temperaturas amenas e convidativas a festa.
Os desejos formulados pelo Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe, Carlos Silva Santiago no momento da abertura do certame, no dia 25 de outubro, e reforçados por Carlos Duarte, Vice-Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, foram atendidos e a Festa da Castanha foi um espaço de animação, de convívio, mas essencialmente um argumento importante para que os expositores mostrassem os seus produtos e os comercializassem. O retorno foi evidente, o certame trouxe valor acrescentado ao produto castanha, a gastronomia conheceu o impulso porque todos ansiavam e Sernancelhe afirmou-se como um Concelho de referência a nível nacional na produção de castanha de qualidade, com muitas potencialidades e que tem tudo para ser um produto âncora num território que já demonstrou ser, como dizia Aquilino Ribeiro, "do antes quebrar que torcer".

Castanha serôdia mas de qualidade

Num ano em que a castanha caiu mais tarde e a produção foi menor, a qualidade superou as expetativas dos produtores. Foi comercializada durante a Festa da Castanha a três euros o quilo e foram vendidas milhares de toneladas durante os três dias de certame. O impulso para que a comercialização deste produto fosse maior aconteceu devido à Festa e ao vasto programa definido para este ano. Não só porque cativou mais público, mas também porque o atraiu a Sernancelhe gente de todas as paragens para a feira e também para participarem nos eventos desportivos como o Passeio Pedestre, o Passeio de BTT e na palestra técnica sobre os soutos.

Foram realmente dias intensos e sempre muito animados na Terra da Castanha. Aliás, muito deve este evento à animação das concertinas, dos ranchos Folclóricos de Sernancelhe e Arnas, aos Cucos Malandros, aos cantares à desgarrada, à Banda Musical 81 de Ferreirim e aos tocadores que chegam de diferentes locais e em cada ponto da feira fazem a festa.

Contributo semelhante chegou dos expositores que este ano mostraram um requinte decorativo excecional, procuraram uma maior interação com os visitantes e conseguiram reproduzir fielmente a essência quer das freguesias quer das empresas.

As tradicionais castanhas assadas, que as meninas trajadas à século XX ofereciam em cestas de vime, espalharam aroma pelo recinto. O vinho, que não faltou nos pipos aguçava o paladar da martainha e o palco da festa contou sempre com música tradicional e que fez jus à tradição popular que caracteriza as gentes da Beira Alta.

Gastronomicamente, os restaurantes Flora e Casa do Avô, ambos do Concelho, estiveram repletos de comensais, atraídos naturalmente pelas apelativas ementas à base de castanha. Os expositores contribuiram de igual modo, dando a provar as iguarias típicas das respetivas localidades e fomentando o convívio com os expositores e promovendo o Concelho como um todo.

A castanha e o desporto

A componente desportiva em torno da Festa da Castanha constitui uma marca muito própria deste evento, um dos que maior longevidade exibe. As "viagens" ao universo da castanha protagonizadas pelo trilho "Rota da Castanha e do Castanheiro" e o 6º Passeio BTT foram responsáveis pela vinda a Sernancelhe de mais de um milhar de pessoas inscritas nas iniciativas. Foram passeios pelo interior dos soutos, em contacto com a natureza, com a flora peculiar desta região e com o sentido pedagógico que se pretende incutir e a que cada vez acorrem (ver textos sobre o BTT e Percursos Pedestres).

O domingo, 27 de outubro, foi o dia mais intenso. Com a manhã dominada pela prova de BTT, a tarde foi reservada para inúmeras iniciativas, mantendo-se contudo a tradição de serem revelados os vencedores dos concursos da melhor castanha, da melhor monstra e do melhor doce de castanha.

As concertinas e o fado à desgarrada prolongaram-se pela tarde e noite dentro. Castanhas assadas e vinho, convívio, reencontro e festa marcaram a edição da Festa da Castanha 2013. Novidade muito apreciada foi o comboio turístico que de forma constante levou os visitantes a conhecer a Vila de Sernancelhe, o Centro Histórico e os principais monumentos de uma terra com origens anteriores à fundação da nacionalidade. Vale a pena visitar a Terra da Castanha.

 


 


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