Granjal
Granjal deve a sua origem à Ordem de Malta. É uma das aldeias mais verdejantes do concelho, escondendo-se o seu casario por entre pinheiros e castanheiros, alguns velhos de séculos. O povoado cresce agora encosta acima, ajoelhando-se aos pés da ermida de Nossa Senhora da Aparecida. Graças à sua água de montanha, à frescura e ao parque de merendas é um dos locais mais requintados da aldeia. Considerado um miradouros natural de grande interesse, é a partir deste ponto que se vê a sede do concelho, as aldeias vizinhas e, em dias mais claros, o castelo de Penedono. Envolta pelas serras da Borralheira e Lapa, Granjal começou por ser uma granja (conjunto de dependências de uma propriedade agrícola). A riqueza do seu solo, principalmente na Lameira de Arados, transforma esta terra numa das mais produtivas do concelho. A Ribeira de Guímar ou de Arados, que nasce em pleno coração da serra da Lapa, vai irrigando as pequenas parcelas à sua passagem, sendo responsável pela qualidade excepcional das culturas. Terra de ferreiros, muito requisitados pelas suas habilidades na arte de ferrar os cavalos e burros, Granjal continua uma aldeia essencialmente agrícola. Apenas no século XIV se constituiu como freguesia, guardando muitos exemplos da convivência da ruralidade com os senhores da terra. Almeidas, Mendonças, Amarais, Rochas e Pessanhas eram algumas das famílias importantes de Granjal. Do seu património destacam-se a Igreja Matriz e a graciosa Capela de S. Miguel, com brasão na verga da porta principal. Ao lado, ergue-se a casa dos Cardosos, uma construção do século XIX, soalheira e imponente, que define um estilo de vida de uma família rica de gosto requintado. Habitação idêntica no estilo situa-se bem no centro da povoação. Ao lado sobressai o cruzeiro do Largo do Soito, datado de 1736, que prende pela sua elegância. No Cabo do Lugar, o bairro de construções tipicamente rurais, aprecia-se ainda a pequena Capela de Santo António, aberta em dias de procissão na aldeia. Do Cabo do Lugar, passando pela Quinta de Arrossaio até ao Paúl, em tempos laje comunitária onde a população secava e malhava os cereais, segue-se hoje por uma ligação larga e confortável em cubos de granito.
União de Freguesias de Fonte Arcada e Escurquela
Escrito por AdministratorFonte Arcada
Fonte Arcada deve o seu nome à fonte em arco ogival (sec. XIII ou XIV) que se encontra no sítio da Cova da Moura, e foi sede de concelho durante sete séculos. D. Sancha Vermuiz concedeu-lhe foral no ano de 1193 e estavam sob sua administração as freguesias de Freixinho, Ferreirim, Macieira, Escurquela, Chosendo e Vilar (hoje pertencente ao concelho de Moimenta da Beira). Por causa deste estatuto, a vila atingiu alto grau de prosperidade, como demonstram os seus solares medievais e os monumentos. Coutinhos e Gouveias foram algumas famílias ilustres que aqui se implantaram. Porém, foi no século XVII, quando Fonte Arcada tinha juiz, tabelião, escrivão, almotacés e sargento-mor de ordenanças, que surgiram os melhores solares: dos Condes da Azenha, dos Couraças e dos Brigadeiros, com terreiro murado e portão com escudo da família. A importância administrativa de Fonte Arcada está ainda hoje bem presente no Pelourinho, na Torre do Relógio, no cerro do Castelo e na Casa do Paço ou Casa da Loba (séc. XIII). A contrastar com a nobreza, o povo distribuía-se pelo casario típico em granito amarelado de boa cantaria, onde coexistem maciços balcões de pedra com bonitas varandas de madeira. No Largo do Rossio, os fontercadenses acorriam à Igreja Românica, do século XIII, que se desenvolve em planta longitudinal composta por nave, capela-mor, capelas laterais e sacristia. O culto é ainda hoje um marco de Fonte Arcada, sendo a sua festa, dedicada à Senhora da Saúde, a segunda maior romaria do concelho de Sernancelhe. Situado no miradouro de onde se avista o rio Távora, o Santuário está enquadrado num espaço composto por recinto de feira, parque de merendas e coreto. Para lá chegar sobe-se por uma calçada à portuguesa íngreme e escorregadia. A mesma calçada por onde os bois puxam os carros armados de andores em dia de festa e os Zés-pereiras fazem ecoar os seus tambores. Fonte Arcada e Escurquela formam hoje a União de Freguesias de Fonte Arcada e Escurquela.
Escurquela
Assente no retábulo paisagístico que assinala a transição formal da Beira para o Douro, Escurquela situa-se, como refere Abade Vasco Moreira, no livro Sernancelhe e Seu Alfoz, num pico de onde se “divisa um extenso panorama, limitado ao poente pelas linhas indecisas e vagas do Marão, ao sul pelo vulto da Serra da Estrela, esfumada sempre pela distância como se a envolvesse perpetuamente densa neblina” . É realmente impressionante a paisagem a partir deste ponto. Graças ao seu posicionamento, a aldeia serviu de esculca (vigia) ao Castelo de Sernancelhe, enviando sinais noturnos (facho a arder) sempre que o inimigo se aproximava. A importância histórica de Escurquela ficou comprovada quando, há alguns anos, ali foi descoberto um precioso machado neolítico. Uma ida ao Outeiro de Santiago é obrigatória. Diz a lenda que naquele rochedo saltava Santiago, com o seu cavalo, para acudir aos cristãos nas lutas contra os mouros. As marcas das ferraduras do seu cavalo terão ficado marcadas na rocha. Só pela paisagem vale a pena subir ao monte, onde existe a Capela de S. Tiago, igualmente repleta de tradições. Descendo até à povoação, entramos na Igreja Matriz de S. Domingos e apreciamos o tecto pintado no século XVIII. No adro encontra-se ainda a Casa dos Tenentes, a setecentista fonte de mergulho e um solar provinciano com um bonito brasão e capela. Igualmente bonito é o Cruzeiro de Templete com a imagem do Nosso Senhor dos Aflitos (sec.XVIII), erguido ao lado do adro. Escurquela, a freguesia mais distante da sede do concelho, é uma caixinha de surpresas. A paisagem, que reconforta de qualquer ponto de observação, acompanha-nos até Fonte Arcada, por entre vinhas e pomares, aproveitando os socalcos que a inclinação da encosta originou.
União de Freguesias de Ferreirim e Macieira
Escrito por AdministratorFerreirim
Ferreirim é uma terra povoada de olivais e vinhas. O vale onde se posiciona é fértil e adaptado à agricultura, setor que ocupa grande percentagem da população. Já no tempo de D. Sancha Vermuiz, que deu foral a Fonte Arcada em 1193, Ferreirim, na altura freguesia daquele concelho, era a mais desenvolvida. Em 1855 ingressaria definitivamente no concelho de Sernancelhe, mas sem nunca perder o sentido comunitário dos seus habitantes, assim como os extensos terrenos, fundos e adequados à cultura de batata e milho. Hoje tende a abraçar o sector secundário, como exemplificam as pequenas indústrias de mármore, madeiras e produtos agrícolas situadas no Parque Empresarial do Picoto, mas preserva bons exemplos da preponderância de outros tempos. Por entre edifícios de traça requintada, antigos e brasonados, sobressai a Fonte Românica, classificada como Imóvel de Interesse Concelhio. O Santuário de Nossa Senhora da Consolação, de onde se desfruta uma vista privilegiada sobre a aldeia, é motivo de festa rija na aldeia no 3º domingo de agosto. A Igreja Matriz de Santo Estêvão, do século XVII, de granito amarelado e situada em lugar harmonioso, convida a uma visita. Existe ainda um Marco da Universidade de Coimbra, um Cruzeiro de Templete e várias alminhas que coexistem com desordenados muros de pedra. Mesmo no fundo da povoação descobrimos o conjunto escultórico que as mãos dos artistas do granito regionais criaram em homenagem aos 20 anos da Banda Musical 81 de Ferreirim. A antiga Escola Primária deu lugar ao moderno Conservatório Regional de Música de Ferreirim, contando com mais de duas dezenas de alunos, gerido pela Associação da Banda Musical 81. Ferreirim encabeça hoje a União de Freguesias de Ferreirim e Macieira.
Macieira
É a Serra da Zebreira, a quase mil metros de altitude, que guarda no seu seio a pequena povoação de Macieira, terra de centeio e hoje de castanha. Foi ela quem, no tempo do Concelho de Fonte Arcada, serviu de pousio a diversas fortalezas, em volta das quais se terão travado importantes lutas entre cristãos e árabes. Macieira cativa pela singeleza do seu casario granítico, sombrio e pesado, voltado para os temporais de norte. As ruas são tortuosas e íngremes. Percorrendo-as descobrimos a arquitetura rural que tão bem caracteriza esta aldeia de gente laboriosa e humilde. Encontramos também duas fontes de água fresca e límpida de onde sobeja água em quantidade para formar um ribeiro, que é engrossado por outro, o Vidual, e se encontram no Távora, em Riodades. Perto deste curso de água a bonita imagem dos pombais torna-se mais real. São dois exemplares da economia local, que merecem ser salvaguardados e, quem sabe, aproveitados para fins turísticos. Os mais idosos, sempre disponíveis para dois dedos de conversa, não descuram as orações diárias na Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Apresentação. O local onde está situada é deslumbrante, permitindo apreciar os limites da Beira e os princípios do Douro. Descendo algumas ruas, por entre casas povoadas de árvores de fruto e silvas derreadas de amoras, chegamos ao Solar e à Capela de S. Domingos, datados do século XVIII, um bonito exemplar da arquitetura nobre, hoje restaurado.
Faia
A Faia é, do grupo das aldeias ribeirinhas do Concelho, a que mais deve a sua história recente à vontade do homem em represar as águas do rio e delas retirar energia. Na década de 60, Faia teve de fugir das margens e deslocar toda a povoação para o monte. Debaixo de água ficaram os solos mais produtivos e o impressionante conjunto de sepulturas escavadas na rocha, que denunciam a antiguidade da aldeia. Hoje, o Centro Interpretativo da Aldeia da Faia promove essa visita pela memória dos habitantes locais, através de imagens, de vídeos, de utensílios e, como complemento, pode partir à descoberta da história no percurso pedestre criado junto ao Távora. A Igreja de São Martinho também não passou ao lado da construção da Barragem e teve de ser erguida no alto, fazendo-se rodear de pequenas habitações em granito que serviram de albergues aos funcionários da EDP que aí trabalharam. Passado o sobressalto, a população procurou novas parcelas para cultivar e construiu mais longe do leito do rio. Recente, mas também sinal do aproveitamento dos recursos naturais, é a Zona de Lazer e Recreio, bem enquadrada paisagisticamente. Mais longe das águas, num pequeno monte pejado de pinheiros e oliveiras, situa-se a Capela do Senhor da Aflição. É ela que olha pela Faia. A aldeia retribui com uma celebração em sua honra no terceiro domingo de Agosto. Na Quinta da Alagoa, hoje repleta de pomares, ainda se pode apreciar o local onde terá nascido a lenda do Rei Chiquito.
Chosendo
Chosendo é uma aldeia pousada numa encosta rochosa, formada pelo cabeço de Santa Bárbara e a Cova da Moura, ramificando-se pela Serra da Zebreira. Chosendo orgulha-se de exibir as suas habitações tradicionais, as suas fontes, o conjunto de sepulturas antropomórficas e os vales onde se desenvolvem as culturas agrícolas. Motivo de veneração é a Santa Bárbara, hoje símbolo da aldeia, com santuário pousado em ponto alto da serra, de onde se avista um cenário de rara beleza.
Fecundado pelo Ribeiro de S. Miguel, que entra no Távora mais adiante, o vale começa no ponto mais alto da aldeia, de onde se avista a Serra da Estrela, o planalto da Lapa, Caria, Leomil e Borralheira. É de lá que a Capela de Santa Bárbara protege os habitantes locais das trovoadas. No centro da povoação de Chosendo encontramos a bonita igreja matriz dedicada a S. Miguel, rodeada de casas rústicas de cantaria enegrecida pelo tempo. O Senhor do Calvário, venerado no terceiro domingo de agosto, é o padroeiro de freguesia.
Cunha
Cunha é a aldeia típica da serra. Destaca-se pelo casario de traça humilde, mas admirável, construído com granito da região. Recortadas em plena serra do Pereiro, as habitações encaixam harmoniosamente na encosta e enriquecem uma zona muito produtiva e fértil, formada pelas colinas de Santo Estêvão a norte, Coitada a nascente, Cabeço do Roldão e Queimadas a sul. A paisagem, prenhe de soutos de castanheiros e eiras com palheiros, alguns pombais, denota a presença do homem e a sua acção na freguesia de Cunha, aldeia incapaz de apagar as marcas da Ordem de Malta, que aqui tinha uma das suas mais produtivas localidades. A Igreja Matriz de S. Fecundo, erguida bem no centro da povoação, ostenta talha do século XVIII e duas pinturas sobre tábua representando S. Francisco e Sto. António. O retábulo maneirista da capela de S. João Baptista é uma preciosidade, assim como as tábuas pintadas com S. Francisco e Sta. Catarina. As capelas de Santo Amaro e Santo Antão atraem muitos romeiros à aldeia, para pagamento de promessas. O Solar dos Amados, com uma bela capela dedicada a Nossa Senhora, encerra todo o historial de uma das famílias nobres da terra. A época medieva também está bem representada, com várias sepulturas antropomórficas encontradas no Chão das Vinhas e na Tapada do Poço.
É a localidade anexa da Cunha, mas que nunca assim foi entendida pois a sua projeção e impeto coletivo é muito elogiado. Situa-se na colina do Monte Pereiro e é caracterizada pela impressionante inclinação das suas ruas, ficando o casario diposto em patamares. Uma dessas artérias conduz ao alto da serra. O mesmo alto onde se desenha a linha tortuosa e sombria do cume do Pereiro, admirando-se o serpentear da Ribeira da Tabosa lá ao fundo. O ponto em que o horizonte é o limite para a contemplação. A guardar este local está a solitária capelinha de Santo Estêvão, que é padroeira da localidade de Tabosa. A povoação homenageia em plena serra o seu padroeiro com festa rija. É uma localidade muito dinâmica e com forte sentido comunitário.
Carregal
Carregal é berço de Aquilino Ribeiro. Terra dominada por uma paisagem repleta de verde, que quase oculta a nascente do Rio Aviasca, admiramos a localidade onde nasceu um dos maiores escritores do século XX. A casa lá está, por detrás do Pátio, que recebeu o nome do autor de “O Malhadinhas”. O pequeno núcleo urbano de Carregal guarda, religiosamente, a capelinha de Santo Amaro e a Igreja Matriz do Espírito Santo. Rodeada de velhos arciprestes, abre-nos as portas para que admiremos o seu interior em talha dourada e o requinte da sua construção. Ao lado sobressai o Pórtico dos Sanhudos, com brasão, por onde passamos rumo ao aglomerado de casas de pedra onde Aquilino nasceu. É uma construção humilde, típica de lavrador, tal como a descrição detalhada que o escritor faz em “Cinco Reis de Gente”. Carregal é aldeia plena de história e um exemplo de comunidade constituida por mais duas localidades: Aldeia de Santo Estêvão e Tabosa do Carregal.
As habitações de granito negro, envoltas numa paisagem típica de serra, pedregosa e agreste, mesclam-se com construções modernas, de planta importada. A própria Igreja, construída no século XX, nasceu da vontade do povo e empenho pessoal do então pároco da freguesia, Lucas Ribeiro, que esteve na comunidade durante mais de cinquenta anos. Os lameiros, os terrenos agrícolas e florestais, os pastos e as forragens abundam, sendo o leite e a pecuária garantias de casa farta e dinheiro na algibeira. A povoação exibe ainda a sua capelinha de Santa Quitéria, levantada no século XVIII, ao lado de um solar de 1745. A Capela de Santo Estêvão é outro exemplo da devoção do povo, que se uniu para a reedificar. A olhar para o lazer, Aldeia de Santo Estêvão aproveitou as águas que brotam da encosta da Serra da Lapa e represou-as na zona de lazer da Fonte Limpa, um espaço de convívio e de encontro das gentes da aldeia.
É a terra do Convento de Nossa Senhora da Assunção e dos fálgaros. Fundado em 1690 por D. Maria Pereira, com o objectivo de abrigar monjas descalças ou recoletas que professassem as regras de S. Bento com devoção e piedade, foi o verdadeiro impulso ao crescimento da povoação de Tabosa. O granito é o elemento dominante em toda a construção e também nas habitações que o rodeiam. Imponente, o convento conheceu a ruína com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834. A cerca desabou, assim como grande parte dos motivos mais interessantes do edifício. Escaparam a Torre do Mirante, o Pórtico e a Igreja que hoje é utilizada pelo povo para as normais cerimónias religiosas. Em 1850, à data da morte da última freira, e depois de uma história atribulada, o convento encerrou. Na povoação há capelas, uma fonte de mergulho e uma casa fidalga. Mas o que realmente sobressai do casario desta encosta pedregosa, fértil em urzes e sargaços, é o aroma dos fálgaros, a especialidade criada pela recolhidas do Convento de Nossa Senhora da Assunção à base de ovos, farinha e queijo. Merece a pena uma visita demorada à Tabosa, em especial ao Convento, hoje visitável e onde é possivel perceber toda a história e vivência daquele espaço religioso.
Arnas
Circundada por pedregosos cerros, com um riacho quase imperceptível a atravessá-la, Arnas é terra de história e monumentos, como testemunha o Castro de Murganho e a igreja seiscentista, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que se levanta no cimo da aldeia. O teto impressiona por causa da pintura com uma invulgar iconografia: um dragão é ferido com um raio de fogo que lhe é atirado por um menino e que o faz estrebuchar de sofrimento. A gente das Arnas acredita no poder curativo da água que brota do rochedo contíguo à Capela de S. Pedro, à Conquinha, dizendo que faz bem às vistas. Nunca seca este nascente misterioso, em que a água passa de covinha em covinha em ritmo sincronizado. Tão misterioso como a Lapa da Moira, um gigantesco abrigo natural que os pastores utilizavam quando havia temporal. A vista a partir deste ponto é fantástica. A Serra revela-se por inteiro, o colorido do rosmaninho e da bela-luz transformam-se em aroma e as pedras formam um cenário mais parecendo ovelhas a pastar! Na aldeia sobressai, imponente e misteriosa a Coluna em granito, plantada junto à capela de S. João, que parece homenagear o arrojo dos homens que ousaram erguê-la e aqueles que por aqui enfrentam o frio dos rigorosos Invernos. Frio que espantam com as robustas lareiras construídas no interior das casas típicas de perfeitos blocos de granito amarelo.
Personagens Célebres
Também os sernancelhenses modelaram a História
Sernancelhe foi berço de gente ilustre das artes, da ciência e da cultura. Destas terras do interior do País, de onde se avista a Estrela e o Marão, denominadas de "Terras doi Demo" pelo Mestre escritor Aquilino Ribeiro, partiram jovens que carregaram às costas as suas origens pelos quatro cantos do mundo. Homens que, pela sua personalidade, conseguiram, cada um à sua maneira, influenciar a história. António Ribeiro Saraiva, Aquilino Ribeiro, Bernardo Xavier Coutinho, João Fraga de Azevedo, Padre João Rodrigues e Abade Vasco Moreira foram algumas das figuras nascidas em Sernancelhe e que fazem parte do lote das personalidades célebres da nossa terra.
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António Ribeiro Saraiva - No século XIX, nascia em Sernancelhe António Ribeiro Saraiva, o diplomata, jornalista, político e escritor que acompanhou D. Miguel no exílio e com ele regressou em 1828, tendo despenhando importantes cargos diplomáticos, de entre os quais se destaca o de Secretário da Embaixada de Portugal em Londres, precisamente durante o reinado de D. Miguel. Fidalgo da Casa Real, bacharel formado em Direito e em Cânones pela Universidade de Coimbra, nasceu em Sernancelhe a 10 de junho de 1800, e faleceu em Paddock House, St. Peters, no condado de Kent, Inglaterra, a 15 de dezembro de 1890, contando 90 anos de idade. Era filho do desembargador da Casa da Suplicação, e conselheiro José Ribeiro Saraiva e de D. Francisca Xavier Constantina de Morais e Macedo. A Câmara Municipal de Sernancelhe homenageou-o no dia 1 de novembro de 1990, durante uma sessão solene nos Paços do Concelho, em que Teresa Mónica, da Biblioteca Nacional, a quem está confiado o espólio de Ribeiro Saraiva, proferiu uma palestra verdadeiramente inédita e que revelou a vida e obra deste sernancelhese. O Município emitiu ainda uma medalha comemorativa, atribuiu o nome de Ribeiro Saraiva a uma rua e publicou uma brochura com a palestra de Teresa Mónica. |
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Aquilino Ribeiro – Conhecido como O Mestre, Aquilino Ribeiro é um dos maiores escritores portugueses do século XX. Nasceu na freguesia de Carregal, Sernancelhe, em 1885, e foi batizado na igreja de Alhais, concelho de Vila Nova de Paiva. Estudou no Colégio da Senhora da Lapa, fez Filosofia em Viseu e frequentou Teologia no Seminário de Beja, curso de que desistiu no segundo ano. Inconformado por natureza, mudou-se para Lisboa, em 1907, onde intentou começar carreira no jornalismo. As controversas atividades políticas levariam Aquilino Ribeiro à cadeia, de onde se evadiu. Exilado em Paris, frequentou os cursos de Filosofia e Sociologia da Sorbonne, onde recebeu ensinamentos dos melhores mestres da época. No campo literário estreou-se, em 1913, com a colectânea de contos “Jardim das Tormentas”. Da sua vasta obra, destacam-se “A Via Sinuosa”, “Terras do Demo”, “Volfrâmio”, “Aldeia”, “Cinco Reis de Gente” e “Malhadinhas”. Aquilino Ribeiro faleceu em 1963, mas deixou ao país um retrato impecável de uma época e de uma região. Impressões que as Terras do Demo jamais esquecerão, sendo as suas obras autênticos roteiros turísiticos que nos permitem hoje conhecer, de forma exaustiva, a alma das gentes da Beira. |
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Bernardo Xavier da Costa Coutinho – Investigador, crítico de arte, tradutor, Bernardo Coutinho nasceu na freguesia de Ferreirim em 1909. Ordenado sacerdote, foi nomeado cónego da Sé Catedral do Porto. Licenciou-se em Ciências Históricas e em Letras Românicas e doutorou-se pela Universidade de Lovaina com a tese “As Lusíadas e os Lusíadas”. Professor no Seminário Maior do Porto e na Universidade Católica, em Lisboa, foi também professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Provido no cargo de Conservador do Museu de Soares dos Reis, viu reconhecido o seu trabalho quando foi eleito sócio da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa de História. Da sua obra destacam-se publicações como “Acção do Papado na Fundação e Independência de Portugal”, “Camões e as Artes Plásticas” e “A Medalhística Camoniana do Século XVIII aos nossos dias”. Bernardo Xavier Coutinho faleceu em 1987, deixando cerca de meia centena de obras de mérito. |
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João Fraga de Azevedo – Natural de Sarzeda, Fraga de Azevedo licenciou-se em medicina pela Universidade de Coimbra. Selecionado para médico da Armada Portuguesa fez, entretanto, o curso na Escola de Medicina Tropical. Considerado um dos maiores cientistas da medicina tropical portugueses, representou o país em conferências e congressos internacionais. Publicou perto de quatro centenas de trabalhos científicos, individuais ou em colaboração, divulgadas por todo o mundo da ciência. Mesmo à distância, Fraga de Azevedo não se esqueceu de Sernancelhe e terá usado os seus bons ofícios para a criação do Colégio do Infante Santo, em 1966/67. Foi distinguido com altas condecorações em Portugal, África, Brasil, Alemanha, Espanha e Itália. Fraga de Azevedo faleceu em Lisboa em 1977 com 68 anos. |
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Padre João Rodrigues – Nasceu em Sernancelhe em 1560 ou 1561. Com apenas 14 anos saiu de Portugal em direção à Índia. Em 1580 chegou ao Japão por intermédio da Companhia de Jesus. Ao serviço da Companhia dedicou-se ao ensino da gramática e do latim. Alguns anos mais tarde concluía os estudos em Teologia em Nagasaki. Foi a Macau para ser ordenado sacerdote e, tendo regressado ao Japão, tornou-se intérprete, servindo como agente intermediário nas compras feitas às naus estrangeiras. Conhecido como comerciante, diplomata e político, Padre João Rodrigues acabaria expulso do Japão no ano de 1610, por razões ainda não esclarecidas. Regressado a Macau, iniciou uma série de investigações com vista ao conhecimento das origens das comunidades cristãs ali estabelecidas desde o século XIII. Considerado um clássico para o conhecimento do Japão, Pe. João Rodrigues foi o autor da primeira gramática da língua japonesa e escreveu a “História da Igreja no Japão”. Apontado como um vulto da cultura universal, faleceu em Macau em 1633, sendo ainda hoje motivo de estudo e um símbolo do Japão. |
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Vasco Moreira – Ficou conhecido como o autor da primeira monografia sobre o Concelho. Editada em 1929 com o título “Terras da Beira – Sernancelhe e seu Alfoz”, é o livro que ainda hoje nos dá toda a informação histórica, geográfica, etnográfica e linguística sobre o concelho. Sensivelmente na mesma época, deu à estampa outra obra maior da sua carreira como orador, arqueólogo, historiador, literato e escritor: a “Monografia do Concelho de Tarouca”. A Abade deve-se também a organização do Museu de Lamego, do qual seria o primeiro diretor. O trabalho de Vasco Moreira revela-se notável porque, mesmo sem recursos bibliográficos, conseguiu legar obras muito completas e importantes para a afirmação das respetivas comunidades. Faleceu em São João de Tarouca em 1932. Em sinal de homenagem, o Município de Sernancelhe, a sua terra natal, deu o nome de Abade Vasco Moreira à sua Biblioteca Municipal, tendo posteriormente sido dadas à estampa outras obras da sua autoria, nomedamente em poesia. |
Como Chegar a Sernancelhe
Sernancelhe situa-se na Região Centro-Norte de Portugal, em plena Beira Alta, na parte nordeste do distrito de Viseu, ao qual pertence administrativamente.
O Concelho de Sernancelhe é servido por duas Estradas Nacionais: a EN 226, que liga Celorico da Beira a Lamego; e a EN229, que liga Viseu a São João da Pesqueira. Para quem venha da A25 e A24, chegar a Sernancelhe demorará cerca de quarenta minutos. Cinquenta minutos é também o tempo que nos separa da sede de distrito, Viseu.