Municípios apostados na reedição das obras de Aquilino Ribeiro. Depois de “Cinco Réis de Gente”, foi agora a vez de “O Homem da Nave”

Municípios apostados na reedição das obras de Aquilino Ribeiro. Depois de “Cinco Réis de Gente”, foi agora a vez de “O Homem da Nave”

As autarquias das Terras do Demo, Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, no âmbito das parcerias estabelecidas com a Bertrand Editora e com a família do escritor sernancelhense, continuam a promover a reedição de obras emblemáticas do escritor Aquilino Ribeiro. Depois do lançamento da reedição de “Cinco de Gente”, no Pátio Aquilino Ribeiro, no Carregal, no dia 17 de setembro de 2016, com o patrocínio do Município de Sernancelhe, desta vez coube à autarquia de Moimenta da Beira a responsabilidade da reedição de “O Homem da Nave”, livro apresentado publicamente na tarde de 27 de maio, no Senhor da Aflição, em Soutosa, precisamente no dia em que se assinalavam 54 anos da morte do escritor. Estiveram presentes o neto do escritor, Aquilino Machado, o diretor da Bertrand Editora, Eduardo Boavida, Álvaro Domingues, que prefaciou a obra, e Henrique Monteiro, jornalista do Expresso.

Há muito esgotado, “O Homem da Nave”, editado originalmente em 1954, tem como epicentro a serra da Nave, as gentes e o modo de vida do Portugal rural do tempo do Estado Novo. Olhando para a serra, Aquilino mostra o camponês “orgulhoso e inteiriço, por linha direta de descendência guardando ainda o espírito guerreiro, surge aos nossos olhos enquadrado no ritmo sazonal do amanho da terra, nas artimanhas de caçador furtivo, nos pequenos dramas que a espaços vêm encrespar a placidez do seu dia a dia”, lê-se na badana da obra “O Homem da Nave”, reedição de 1968.

O livro agora reeditado, obedecendo ao estilo gráfico definido pela Betrand para as obras de Aquilino Ribeiro, conta com o prefácio do geógrafo Álvaro Domingues, intitulado “O rebelde crónico”, que, durante a cerimónia de apresentação destacou em Aquilino a capacidade de examinar a génese beirã de forma inimitável, bem como o génio do escritor ao conseguir transpor para as páginas do livro o camponês desse tempo em todas as suas facetas: bom e mau, martirizado e resiliente, limitado nas suas ações mas dono da sua liberdade, conhecedor das artes e dos ofícios que garantiam a subsistência mas muito dependente da superstição.

Henrique Monteiro, jornalista do Expresso, e também ele filho das Terras do Demo, pela sua ligação a Vila Nova de Paiva, lembrou episódios do tempo de Aquilino Ribeiro com a sua família, e apontou Aquilino como um grande escritor, a quem deve ser reconhecida a enorme capacidade de descrever. E “O Homem da Nave” é prova dessa extraordinária faculdade de perscrutar a realidade e gravá-la nas páginas das suas obras.

Aquilino Ribeiro, neto do escritor, mostrou-se agradecido pela dedicação das autarquias da Terras do Demo à obra do seu avô. Lembrando a cerimónia emotiva que aconteceu no Pátio Aquilino Ribeiro, no Carregal, Sernancelhe, reconheceu o papel da Fundação Aquilino Ribeiro e o empenho particular em todo este processo do Dr. Paulo Neto, um dinamizador constante em torno do Mestre Aquilino Ribeiro.

Agora que “O Homem da Nave” volta a estar à venda, importa que encontremos nele aquilo que Aquilino prometeu, em 1954, quando o escreveu: “Volvida a última página, familiar já do meio onde toda esta humanidade fervilha, terá porventura feito o mais aliciante dos encontros com uma das poucas regiões ainda verdadeiramente genuínas que subsistem no País”.

Esta região são as Terras do Demo, que nesta cerimónia contou ainda com a apresentação de um “Terras do Demo” tinto, da cooperativa do Távora, uma reserva dada a conhecer, e provar, pelo Presidente da Cooperativa, João Silva, também ele um cidadão de Ferreirim, Concelho de Sernancelhe.


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