Há muito esgotado, “O Homem da Nave”, editado originalmente em 1954, tem como epicentro a serra da Nave, as gentes e o modo de vida do Portugal rural do tempo do Estado Novo. Olhando para a serra, Aquilino mostra o camponês “orgulhoso e inteiriço, por linha direta de descendência guardando ainda o espírito guerreiro, surge aos nossos olhos enquadrado no ritmo sazonal do amanho da terra, nas artimanhas de caçador furtivo, nos pequenos dramas que a espaços vêm encrespar a placidez do seu dia a dia”, lê-se na badana da obra “O Homem da Nave”, reedição de 1968.
O livro agora reeditado, obedecendo ao estilo gráfico definido pela Betrand para as obras de Aquilino Ribeiro, conta com o prefácio do geógrafo Álvaro Domingues, intitulado “O rebelde crónico”, que, durante a cerimónia de apresentação destacou em Aquilino a capacidade de examinar a génese beirã de forma inimitável, bem como o génio do escritor ao conseguir transpor para as páginas do livro o camponês desse tempo em todas as suas facetas: bom e mau, martirizado e resiliente, limitado nas suas ações mas dono da sua liberdade, conhecedor das artes e dos ofícios que garantiam a subsistência mas muito dependente da superstição.
Henrique Monteiro, jornalista do Expresso, e também ele filho das Terras do Demo, pela sua ligação a Vila Nova de Paiva, lembrou episódios do tempo de Aquilino Ribeiro com a sua família, e apontou Aquilino como um grande escritor, a quem deve ser reconhecida a enorme capacidade de descrever. E “O Homem da Nave” é prova dessa extraordinária faculdade de perscrutar a realidade e gravá-la nas páginas das suas obras.
Aquilino Ribeiro, neto do escritor, mostrou-se agradecido pela dedicação das autarquias da Terras do Demo à obra do seu avô. Lembrando a cerimónia emotiva que aconteceu no Pátio Aquilino Ribeiro, no Carregal, Sernancelhe, reconheceu o papel da Fundação Aquilino Ribeiro e o empenho particular em todo este processo do Dr. Paulo Neto, um dinamizador constante em torno do Mestre Aquilino Ribeiro.
Agora que “O Homem da Nave” volta a estar à venda, importa que encontremos nele aquilo que Aquilino prometeu, em 1954, quando o escreveu: “Volvida a última página, familiar já do meio onde toda esta humanidade fervilha, terá porventura feito o mais aliciante dos encontros com uma das poucas regiões ainda verdadeiramente genuínas que subsistem no País”.
Esta região são as Terras do Demo, que nesta cerimónia contou ainda com a apresentação de um “Terras do Demo” tinto, da cooperativa do Távora, uma reserva dada a conhecer, e provar, pelo Presidente da Cooperativa, João Silva, também ele um cidadão de Ferreirim, Concelho de Sernancelhe.