Aos Reis está associado também o cantar as Janeiras, tradição em Portugal que consiste no cantar de músicas pelas ruas por grupos de pessoas anunciando o nascimento de Jesus, desejando um feliz ano novo. Essa memória é o que as gentes do Carregal trazem a Sernancelhe neste dia.
Carregal que é também terra de Aquilino Ribeiro. Por isso não deixa de prestar, no Dia de Reis, a devida homenagem aquele vulto das letras portuguesas, um defensor e perpetuador das tradições das comunidades serranas, em particular destas “Terras do Demo”.
“Na alba do Ano Novo, ainda as árvores de caroço pela folha e os carvalhos pelos cerros pareciam rocas, grandes rocas carregadas de lã ruça, romperam os ranchos a pedir as janeiras”, escreve Mestre Aquilino em “O Livro do Menino Deus”, no capítulo XII, todo ele dedicado aos cantares das janeiras, com quadras direcionadas a quem abria a porta e a quem não o fazia.
E com personagens únicas, pintadas à moda de Aquilino: “Estava um frio de rachar, dos beirais pendiam candeias de caramelo, e os rapazes, todos de pata ao léu, batiam o dente e sopravam às mãos encalidas. O mais novo, o Toninho, era o mais arreganhado, com o cabelo, cortado às escaleiras, em pé como de cão que viu lobo, sem outro agasalho além da camisa de tomentos e das calças de cotim, rachadas atrás e presas por uma alça, que para cúmulo de desgraça se rompera pela ponta e era obrigado a segurar nos dentes”.
Tem por isso um encanto especial a visita de mais de meia centena de pessoas do Carregal com os cantares de Reis, numa iniciativa que reuniu no Salão Nobre dos Paços do Concelho os funcionários do Município e o Executivo.