É sobre a figura do Padre João Rodrigues que incide a história do filme “Silêncio”, apontado como um potencial candidato aos Óscares pelo portal “Sapo”, edição de 5 de janeiro de 2017. O filme de Martin Scorsese, baseado no romance homónimo de Shusaku Endo, conta a história de dois padres jesuítas do século XVII que foram para o Japão em busca do seu mentor, Cristóvão Ferreira (1580-1650), e que são perseguidos e torturados durante a sua missão. Cristóvão Ferreira é interpretado por Liam Neeson, enquanto Andrew Garfield e Adam Driver surgem como os dois jovens padres.
Padre João Rodrigues, o missionário que, tal como refere Michael Cooper no livro “Rodrigues, o Intérprete”, editado pela Quetzal, em 2004, com a chancela da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, “nasceu em Sernancelhe, Portugal, cerca de 1561”, viria a tornar-se “o mais influente europeu em Nagasaki (Japão)”, sendo-lhe conferida a autoria da “primeira gramática publicada da língua japonesa” e um extenso “trabalho sobre a cultura japonesa que continua a surpreender os leitores modernos pela sua perspicácia e riqueza de detalhes”.
A Embaixada de Portugal Tóquio – Japão, no seu sítio oficial, explica, de forma resumida, o percurso de vida de João Rodrigues: “Padre João Rodrigues – nasceu em Sernancelhe, em 1560 ou 1561. Com apenas 14 anos saiu de Portugal em direção à Índia. Em 1577 chegou ao Japão como membro da Companhia de Jesus. Em 1580 inicia o seu noviciado em Usuki e no ano seguinte inicia-se no estudo de Humanidades, Filosofia e Teologia em Funai (Oita). Em Nagasaki, ao serviço da Companhia, dedicou-se ao ensino da gramática e do latim, vindo a concluir os estudos em Teologia. Foi a Macau para ser ordenado sacerdote e, de regresso ao Japão, tornou-se intérprete de Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi, recebendo assim o epíteto de “Tçuzu” (o Intérprete) — como aliás é conhecido entre os historiadores e conhecedores da sua obra. Tornou-se um hábil diplomata e político. Em 1619, após o Édito de Expulsão dos religiosos por parte das autoridades japonesas, partiu para Macau, onde iniciou uma série de investigações com o propósito de conhecer as origens das comunidades cristãs ali estabelecidas desde o século XIII. Apontado como um vulto da cultura universal, faleceu em Macau em 1633. Para além de intérprete, foi um dos autores e coordenador do Vocabulário da Lingoa de Japan, editado em 1603, primeiro dicionário de japonês-português; da Arte da Língua de Japam (1608); Arte Breve da Língua de Japam (1620) e autor de A História da Igreja de Japam”.
Em Sernancelhe Padre João Rodrigues dá o nome ao Agrupamento de Escolas e à praça contígua, onde sobressai um bonito monumento dedicado à sua vida e obra pelo Oriente, local de visita obrigatório para os japoneses que vêm a Sernancelhe à procura das origens de João Rodrigues, que não dispensam uma visita também à Igreja Românica, do século XII, onde creem ter sido batizado, e que está classificada como Imóvel de Interesse Público.
Monsenhor Cândido Azevedo, que dedicou a este jesuíta vários artigos, aponta, no livro “P.E João Rodrigues Tçuzu, editado pelo Município de Sernancelhe, João Rodrigues como uma personalidade de grande relevo na história e na cultura do Japão, com um percurso de vida “prodigioso”, começando por ser “comerciante”, tornando-se mesmo “o agente comercial nas relações entre Portugal e o Japão e entre o Japão e a China e, quase à maneira moderna, de multinacional entre Ocidente e Oriente”.
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