Sernancelhe homenageia Mestre Aquilino Ribeiro nos 50 anos da sua morte
A Câmara Municipal de Sernancelhe, com a colaboração de aquilinianos como Alberto Correia, António Fernandes, Fernando Paulo Baptista, Manuel de Lima Bastos, Eugénia Pereira e Paulo Neto, assinalou, no dia 25 de maio, o Cinquentário da Morte de Aquilino Ribeiro com a iniciativa "Meio século de memória(s) - uma geografia sentimental", cuja sessão foi aberta por Almeida Henriques, ex-Secretário de Estado da Economia, e assistida por cerca de duas centenas de pessoas de todo o País.
Reunindo em Sernancelhe conhecidos investigadores e divulgadores da obra de Mestre Aquilino Ribeiro, o Município pretendeu, através deles, revisitar as memórias de uma figura verdadeiramente marcante da história e da cultura portuguesas, considerado um dos romancistas mais fecundos da primeira metade do século XX e talvez o maior responsável pela construção da memória e da identidade que define as gentes da Beira.
As Terras do Demo, a ligação de Aquilino ao clero, o sentido da regionalidade do Mestre, a estreia literária e as circunstâncias da sua morte, a visão do beirão na cidade e os exílios foram os temas das comunicações apresentadas nesta homenagem, tendo permitido uma revisitação a praticamente toda a obra literária do escritor.
Almeida Henriques, convidado pelo Vice-presidente do Município de Sernancelhe, Carlos Silva Santiago a abrir a sessão, confessou o seu gosto pelo escritor das "Terras do Demo" e desafiou para que se entenda "Aquilino como motivador de um sentimento beirão diferenciador de toda esta imensa região".
Por seu turno, Alberto Correia, o primeiro orador, classificou "a revisitação como a melhor homenagem que fazemos a Aquilino Ribeiro", não deixando de lembrar que "prolongar a sua vida e obra é o que se pretende com estas iniciativas".
A relação de Aquilino Ribeiro com o clero foi o tema da palestra de António Fernandes, que deixou bem evidente que "as figuras mais simpáticas das suas obras são padres e que o clero não é mais maltratado do que são as outras classes sociais que passaram pela sua obra".
Já Fernando Paulo Baptista, na sua análise em "demanda da regionalidade plasmada nas Terras do Demo e em diferentes textos de Aquilino", falou do Mestre como "o poeta da palavra em português", de uma riqueza lexical extraordinária, e desafiou: "A escola é vital para que a sua obra cresça cada dia e para que o Panteão Nacional (onde repousa) não se transforme numa necrópole".
Manuel de Lima Bastos balizou a sua palestra na estreia literária de Aquilino e nas circunstâncias da sua morte. Recordando a crítica positiva à primeira obra "Jardim das Tormentas", lembrou também as últimas palavras do Mestre: "Mais não pude". Definindo Aquilino como detentor de uma "conduta pautada pela dignidade", leu uma carta inédita de La Guardia, Espanha, definidora também ela do génio e sentido irrequieto de Mestre Aquilino.
"Ir a Lisboa buscar olhos para ver" foi o tema da palestra de Maria Eugénia Pereira. O paralelismo entre a beira e a urbe na obra de Aquilino foi estabelecido pela docente da Universidade de Aveiro, que falou de Aquilino como o responsável por trazer " a província para a cidade".
Paulo Neto falou dos exílios de Aquilino Ribeiro. Explicando o escritor como um homem de "existência sem barreiras ou concessões de qualquer tipo", assegurou que "toda a sua íntegra vida foi um exílio lá fora e dentro da sua própria pátria". Paulo Neto entende mesmo que " os exílios de Aquilino no seu próprio país foram os piores de todos" e refletiram as suas "opções e crenças políticas". A terminar, deixou uma sentença: "Aquilino nasceu em Sernancelhe, nada mais há a dizer!".
José Mário Cardoso, Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe, encerrou o Colóquio dedicado a Aquilino Ribeiro. Falando de uma homenagem "autêntica", agradeceu aos palestrantes as viagens memoráveis pela obra do escritor, "um tributo singelo de uma terra que procura render-lhe homenagem todos os dias e com ações que o valorizem para que Aquilino e a sua mensagem cheguem mais longe".
Mesmo a encerrar, momento ainda para apreciar a mestria dos professores Jorge e Stephanie da Academia de Música de Sernancelhe, no piano e no acordeão, respetivamente.
Da Escola Profissional de Sernancelhe, instituição que este ano comemora duas décadas ao serviço do ensino, veio a excelência da gastronomia beirã, inspirada na obra do escritor, confecionada pelos professores e alunos do Curso Técnico de Restaurante/bar, numa demonstração de que toda a comunidade sernancelhense, incluindo a estudantil, comunga de um sentido aquiliniano forte e motivador de excelência.
A homenagem que Sernancelhe rendeu a Aquilino pretendeu também revisitar a casa onde nasceu, no Carregal, as memórias do seu berço, as fontes de inspiração das suas obras e locais emblemáticos como o Pátio Aquilino Ribeiro, sublimemente retrato em "Cinco Réis de Gente", o Convento de Nossa Senhora da Assunção, palco do "Valeroso Milagre", o Santuário e Colégio da Lapa, descritos na obra "Uma Luz ao Longe", e o Convento de Freixinho, terra das cavacas e onde Aquilino se inspirou para longos trechos das suas obras.
Em todos estes locais foram lidos excertos das obras do Mestre Aquilino pelos palestrantes, destacando-se o acolhimento no Convento da Tabosa, onde o proprietário Luís Mergulhão recebeu os visitantes e fez ele mesmo um enquadramento histórico daquele templo. O Convento de Freixinho e as célebres cavacas encerraram a viagem pelo mundo de Aquilino Ribeiro, um espaço que para ser compreendido tem de se conhecido e explorado. "Meio século de memória(s) - uma geografia sentimental" foi o maior contributo para que assim seja.