Homenagem ao Bispo D. Manuel da Silva Martins no dia da liberdade

Homenagem ao Bispo D. Manuel da Silva Martins no dia da liberdade

Sernancelhe continua a ser apontado como uma referência no que respeita a comemorar o 25 de abril de 1974. Este ano o Concelho distinguiu o Bispo D. Manuel da Silva Martins com a Medalha de Honra Municipal e a elevação da cerimónia mereceu, por parte do Jornal Público, o reconhecimento entre trinta municípios, a nível nacional, onde esta efeméride é celebrada com elevação e reconhecido sentido histórico.

D. Manuel da Silva Martins, uma personalidade que mantém com Sernancelhe uma relação de grande proximidade e amizade, confirmou isso mesmo, ao afirmar, no Salão Nobre, que "nunca vi o Dia da Liberdade celebrado com tanta fidalguia e verdade como em Sernancelhe".

Mas, na realidade, as comemorações do 25 de Abril, em Sernancelhe, primam pela simplicidade e pela espontaneidade, procurando o Município que esta data seja um ato de demonstração dos valores e dos princípios que devem afirmar a sociedade democrática em que vivemos e que conquistamos com o 25 de abril.

Foram estes os valores que Sernancelhe sempre entendeu como fundamentais para a sua construção e afirmação enquanto Concelho do Interior de Portugal, e que o Presidente da Câmara Municipal, Carlos Silva Santiago, enfatizou no seu discurso.No mesmo saudou, de forma especial, a ex-Presidente da Assembleia, Dra. Adélia Sobral, o homenageado, D. Manuel da Silva Martins e o seu antecessor, José Mário Cardoso. Do seu discurso transcrevemos o essencial:

"(...)Dr. José Mário de Almeida Cardoso, um sernancelhense que ao longo de 24 anos se dedicou, com paixão, sentido de retidão e reconhecido brio profissional, à sua terra. Da sua ação como Presidente da Câmara Municipal é testemunho o Concelho que hoje conhecemos, um território ordenado, planeado e de futuro. Comemorar o 25 de abril desta forma, com este sentido e vigor, colocando Sernancelhe entre os Concelhos que sabem valorizar a Liberdade, é mais uma herança que nos lega. Muito obrigado.

(...)Assinalam-se hoje por todo o País, os 40 anos decorridos do 25 de abril de 1974. É uma data histórica, um marco que simboliza a conquista da liberdade e um momento de viragem num Portugal até então oprimido e reprimido. Num país em que, como dizia Aquilino Ribeiro, "O português resigna-se a tudo menos a não ter opinião ou a não deitar a sua sentença", limitar a liberdade de expressão era impedir a criação, adiar o desenvolvimento e condenar o País a um atraso geracional.

Por isso, Abril representou e representa um tempo de mudança. Novas oportunidades surgiram, uma janela de esperança abriu-se e o sonho de um país mais justo e igualitário floresceu.

(...) Crescemos em números, mas estagnamos em desenvolvimento. Portugal vestiu fato de rico quando nunca deixou de ser pobre. Esta realidade de uma sociedade carente de referências como as idealizadas com abril, tornou-nos vulneráveis.

(...) Não podemos, de forma alguma, assistir impavidamente ao esvaziamento do interior, ao encerramento de serviços ou ao desaparecimento daquilo que tanto custou a conquistar. Foi abril que nos deu o Poder Autárquico, que garantiu às nossas populações a existência de serviços descentralizados do Estado.

(...) Vivemos, incompreensivelmente, um tempo em que só os números parecem importar e, inacreditavelmente, crê-se que só os números nos podem salvar.

A ser assim, parece estar nas nossas mãos, de todos e sem exceção, a capacidade de exigir a resolução imediata dos nossos problemas e a permanência de todas as repartições públicas no nosso Concelho.

É extremamente importante que os serviços do Estado, em Sernancelhe, sejam eles de notariado, finanças, segurança social, saúde ou educação sejam capazes de ser produtivos, de ser dinâmicos, e servir a nossa população.

É premente que os funcionários exerçam com brio as suas funções e, tenho a certeza, estaremos melhor posicionados nas estatísticas que importam para que os serviços não fechem.

- Se conseguirmos que os nossos munícipes não tenham de ir a outros concelhos fazer escrituras, realizar consultas médicas ou outro qualquer serviço;

- Se todos exigirmos resolver no nosso concelho os nossos problemas, então os serviços terão de estar à altura das exigências, e estarão a cumprir e a justificar a sua existência.

- Se são os números que contam, então devemos exigir que os serviços sejam otimizados, sejam mais funcionais e mais virados para as necessidades reais das nossas gentes.

É este o desafio que temos de encarar como fundamental para exigir a permanência dos serviços e, porque não?, exigirmos mais serviços, novos serviços que atraiam mais pessoas, que fixem população, porque sabemos o quanto é importante para quem cá vive que haja boas escolas, bons centros de saúde e boas repartições públicas.

Contudo, o principal responsável pela otimização e pela manutenção dos serviços é o Poder Central, pelo que repudiamos a ideia de encerrar, quanto mais a sua efetivação.

(...) Sernancelhe é um concelho do interior, longe do poder central e parco em recursos económicos, mas um Concelho de gente determinada, resistente, empreendedora e assente em valores como a família, o trabalho e o respeito. Foram estes valores que Abril potenciou, pondo a descoberto o que de melhor nos definia.

Por isso o Concelho de Sernancelhe assumiu, há muito, o desafio de ser uma terra de causas e de gente que encara as dificuldades como estímulos para fazer sempre mais e melhor.

O sentido de pertença, a comunidade e a família são valores fortes, bem enraizados, que nos distinguem e que garantem que neste concelho os desafios ultrapassam-se com união de esforços, com parcerias, com muito trabalho e com dinamismo redobrado.

O apego à terra é muito forte e o investimento das nossas gentes nas suas freguesias é uma realidade que nos enche de esperança, comprovando que sabemos criar atratividade e fixar as nossas gentes.

De acordo com os últimos Censos, fomos dos Concelhos do Distrito de Viseu que menos gente perdeu na última década, e temos cada vez mais jovens apostados na agricultura e na profissionalização deste setor vital para a nossa economia.

O empreendedorismo é pois uma certeza em Sernancelhe. A visão inovadora dos nossos empresários e de quem investe na nossa terra é também uma conquista de Abril. Muitas portas se abriram e temos sabido aproveitar cada oportunidade com afinco e determinação.

Em 2013, o nosso Concelho rejubilou com a distinção de quatro das suas empresas como sendo das maiores do Distrito, representando, na totalidade, perto de 26 milhões de euros de volume de negócios, e garantindo trabalho a cerca de 200 pessoas do nosso Concelho.

A boa prestação das empresas do Concelho de Sernancelhe, que reflete a visão empreendedora dos seus proprietários e gestores, foi novamente reconhecida pelo Instituto Nacional de Estatística, ao considerar Sernancelhe como o 13º Concelho mais exportador do Distrito.

O sucesso das nossas empresas e dos nossos empresários é a confirmação de uma realidade que é já uma marca de Sernancelhe:

Ao contrário do que acontecia há uma década, em que o Município era dinamizador e potenciador de ações, hoje são as empresas, são as comunidades e são as pessoas que, com a sua determinação e empreendedorismo, motivam o município para fazer mais e melhor.

Notável é também o sentido produtivo de muitas das nossas empresas, responsáveis pela recolha e transformação de produtos autóctones, de base agrícola, gerando retorno económico para todos quantos trabalham a terra, garantindo igualmente postos de trabalho, qualidade de vida para as nossas gentes e assegurando o crescimento sustentável do nosso território.

Não esquecemos também o extraordinário contributo dos nossos emigrantes que, apesar de estarem longe, continuam a acreditar na sua terra natal, são os nossos embaixadores no Mundo, e divulgadores empenhados dos nossos produtos, daquilo que por cá produzimos, tantas vezes desbravando caminho para que as nossas empresas vinguem em mercados longínquos mas muito rentáveis.

(...) Tudo isto só foi possível graças ao 25 de abril.

É, pois, com muito orgulho que informo que, neste preciso momento, temos um jovem de Sernancelhe, natural de Ferreirim, de seu nome Luís Ferreira, a fazer uma intervenção no Salão Nobre dos Paços do Município de Viseu, lendo um bonito discurso sobre o 25 de abril, em representação da comunidade escolar do distrito.

Por aqui também se vê a têmpera dos jovens de Sernancelhe que, tal como Aquilino Ribeiro, mantêm o apego à sua terra, procurando sempre, e em todos os momentos, engrandecê-la.

Acredito, por isso, que tal como escreveu Mestre Aquilino Ribeiro "...para chegar a bom termo da viagem é preciso ser livres".

(...) Homenageamos hoje D. Manuel Martins, um exemplo dos valores sociais que devem nortear a nossa sociedade. Uma referência que tentamos seguir no dia a dia da nossa ação política, indo ao encontro das necessidades e dos anseios da nossa população.

Fazemo-lo dentro das nossas possibilidades, como acontece com o apoio na comparticipação dos medicamentos à população mais idosa e com menores rendimentos; apoiamos já perto de um milhar de sernancelhenses, num investimento que ronda os 150 mil euros anuais; é uma medida de extraordinário alcance social, que muito contribui para a qualidade de vida de quem mais precisa.

Temos em funcionamento uma rede de centros lúdicos, que contemplam já nove freguesias, levando aos mais de 300 utentes inscritos neste programa atividades de reconhecida valia social.

Conseguimos, com este projeto, e também com a extraordinária colaboração das juntas de freguesia, recuperar antigos edifícios escolares, reativar espaços nas diversas comunidades, dinamizando ao mesmo tempo associações musicais e desportivas.

Tem sido esta a marca de Sernancelhe, que queremos continuar a concretizar, tendo sempre presente que nos move um reconhecimento extraordinário para com as gerações mais velhas.

(...) Hoje é um dia em que medimos a vitalidade do 25 de abril. Um dia de reflexão que nos conduz a uma certeza: o 25 de abril só foi possível graças a um conjunto de homens que agiram legitimados pela vontade de um povo.

Por isso, esta conquista é uma obra de todos, pelo que todos temos a responsabilidade de a perpetuar.

Sinto que hoje, ao reconhecermos D. Manuel da Silva Martins, volvidos 40 anos sobre este marco histórico, estamos a dar um sinal evidente de que nos revemos na sua ação em prol dos outros, no seu papel na sociedade e que partilhamos dos valores que definem a sua conduta.

Como Concelho do Interior de Portugal, admiramos o seu sentido social, a forma simples e desinteressada como estende a mão aos necessitados, como dá voz aos ostracizados, como sempre soube subir ao monte mais alto para alertar para as injustiças e desumanidades.

(...) Admiramos, pois, o brilhantismo da sua ação como Bispo, reconhecemos o exemplo que a todos deu no campo religioso e social, percebemos o sentido da sua incansável busca pela dignificação do ser humano, a luta empenhada e destemida por causas sociais que os poderes instituídos tendem a ignorar.

Revemo-nos nos valores da vida que sempre praticou e que, afinal, são pares dos valores sonhados com abril, mas que quatro décadas depois, a liberdade isoladamente ainda não concretizou plenamente.

E permita-me que o cite, socorrendo-me da sua obra "D. Manuel Martins, O Bispo de Todos": "Não vou dizer que o meu caminho é melhor porque esse caminho é, fundamentalmente, a consciência recta de quem o procura. Nós, católicos, escolhemos este, julgamos ser o melhor. Mas tenho presente que aquilo que define o homem é a liberdade. Deus criou-nos livres... A cada um caberá a escolha do seu próprio caminho e rumo".

É pois uma honra e uma alegria para o Município de Sernancelhe inscrever o nome de D. Manuel Martins na nossa História.

O seu contributo para o engrandecimento da nossa terra é inegável.

O tamanho do seu exemplo é inquestionável.

Segui-lo e aplicá-lo é o desafio que diariamente procuramos cumprir.

Volvidos 40 anos desta data histórica, sem dúvida um marco incontornável do nosso País, é com um orgulho enorme que admiramos as conquistas que a nossa terra conseguiu alcançar nestas quatro décadas.
Orgulhamo-nos da nossa terra, de sermos guardiões de valores supremos de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Valores que definem o saber estar, o saber cumprir e o saber realizar e, desculpem-me, MEUS SENHORES E MINHAS SENHORAS, esta presunção, mas provavelmente o interior de Portugal devia ser olhado como um exemplo para o País, e os nossos governantes deviam beber desta autenticidade, desta inspiração, e colocá-la ao serviço do nosso Povo. Viva o 25 de Abril, Viva Sernancelhe, Viva Portugal"

De seguida, e dando cumprimento ao protocolo, procedeu-se à homenagem de D. Manuel Martins, que, reconhecido, questionou: "Porque estou aqui? - Verdade que desde a primeira hora gostei de Sernancelhe, joia preciosa incarnada na nossa mais que bela Beira Alta. Verdade que me deixei encantar pela simplicidade e transparência deste povo trabalhador e sério de Portugal".

Sernancelhe respondeu à pergunta de D. Manuel Martins com a frontalidade que define o Concelho e as suas gentes: quis o Concelho distinguir uma personalidade que encarna os princípios da nossa constituição, um defensor dos direitos humanos e um prelado que, ao longo de décadas de magistério, deu sempre a mão aos mais necessitados, tendo pautado a sua ação por lutar por mais e melhores condições para quem menos tem.

A sessão solene no Salão Nobre foi, pela riqueza protocolar e pelos discursos de abril transversais a todos os oradores, um momento verdadeiramente distinto. Foi uma manifestação de enorme democracia, onde todos se fizeram ouvir, e onde a palavra liberdade ecoou em todos os discursos.

O programa destas comemorações primou por assinalar a efeméride com a solenidade que realmente merece, começando pela guarda de honra pelos Bombeiros Voluntários e o hastear da bandeira nacional ao som do hino nacional, interpretado pela Banda Musical 81 de Ferreirim, uma agremiação do Concelho. A cerimónia contou ainda com a brilhante recitação de poemas alusivos a abril por duas crianças do nosso Concelho.

Logo depois, o homenageado viu ser inaugurada a exposição "D. Manuel Martins, um Bispo de Todos", no Centro Municipal de Artes, cuja brilhante apresentação ficou a cargo de dois amigos de longa data: D. Manuel de Lima Bastos e Coronel Pires Veloso, o primeiro um apaixonado pela vida e obra de mestre Aquilino Ribeiro e o segundo um Capitão de Abril, determinante na conquista da Liberdade em Portugal e na consolidação da democracia durante o período em que comandou a Região Militar do Norte.

A cerimónia terminaria no Auditório Municipal. A Banda Musical de Ferreirim foi abrindo caminho em jeito de arruada e, dentro do antigo edifício dos Paços do Concelho, alunos e professores da Academia de Música interpretaram, ao piano e concertina, temas de abril. Rute Gouveia, também de Sernancelhe, interpretou Zeca Afonso e impulsionou as mais de duas centenas de pessoas que encheram o Auditório a fecharem este dia a cantarem a uma só voz o tema "Grândola Vila Morena".


 

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