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Festa da Castanha acontece desde 1990 e é um dos certames mais conceituados do país.

Sernancelhe festeja a castanha

Com a chegada do outono, Sernancelhe vê a sua paisagem mudar de aspeto. Por entre os volumosos ramos dos castanheiros despontam ouriços de cor de ouro de onde espreitam brilhantes castanhas martainhas. Com a força do sol e da chuva, os arrepiados ouriços desprendem-se da árvore e precipitam-se no chão, largando as castanhas que as mãos hábeis dos sernancelhenses colhem. É assim há centenas de anos, tantos quantos testemunham muitos dos velhos castanheiros pousados nas encostas das serras. "... trezentos anos a crescer, trezentos anos em seu ser, outros trezentos a morrer", confirmou Aquilino Ribeiro, escritor nascido precisamente no Carregal, em plena Serra da Lapa, e cuja admiração pelos castanheiros transpira da sua vasta obra literária.

Tal como Aquilino Ribeiro, as gentes das aldeias conhecem bem a importância do castanheiro e da castanha, hoje o produto biológico que menos custos acarreta para o produtor e que mais valor tem junto do mercado. "Sete castanhas são um palmo de mão", era costumeiro dizer-se, como que aferindo se o tamanho do precioso fruto está ou não de acordo com a norma! Á componente económica da castanha, Sernancelhe associa a social e a cultural. É assim com a Festa da Castanha, o certame de homenagem à castanha e aos seus produtores, que o Município de Sernancelhe organiza há quase duas décadas. Nos dias 28, 29 e 30 de Outubro, no Exposalão, a Terra da Castanha recebeu, de braços abertos, com um cartucho de castanhas assadas e uma caneca de vinho, milhares de visitantes de todo o país. Uma festa que é uma manifestação popular genuína, uma marca que distingue Sernancelhe, e que este ano contou com o apoio exclusivo do Crédito Agrícola do Vale do Távora e Douro.

Nesta Terra da Castanha poderá muito bem ter nascido o ditado popular "pelo S. Martinho castanhas e vinho", e que a cultura portuguesa assimilou como que um ritual para cumprir obrigatoriamente no mês de Novembro. Em Sernancelhe, o ditado cumpre-se alguns dias antes no calendário e o Exposalão Multiusos é o espaço que reúne as melhores condições para festejar a castanha.

Castanha, um impulso económico para o Concelho

No dia 28 de Outubro, a Festa da Castanha começou no Salão Nobre dos Paços do Concelho, onde o deputado da Assembleia da República, Pedro Alves, relembrou a importância da castanha para a economia nacional, bem como o papel que os produtores agrícolas do interior do País representam no todo nacional. Por seu turno, José Mário Cardoso, Presidente da Câmara, reconheceu o esforço e a dedicação de quem encara o fruto castanha como determinante para a economia do Concelho. O número de produtores, a abrangência das explorações e os mercados internacionais que a Castanha de Sernancelhe já conhece fazem deste produto um símbolo que tem de ser valorizado e estimado.

Cumprindo a tradição, e já no Exposalão, vendedores de castanha, doces e compotas de castanha, associações, latoaria e utensílios de barro, vinhos, restaurantes e freguesias do concelho, cumprimentaram o presidente da Câmara e o deputado Pedro Alves, a quem transmitiram as expectativas em relação ao certame. Por entre cumprimentos, tempo para experimentarem os produtos locais, para ouvirem explicações sobre o sentido etnográfico das exposições e sentirem o pulsar das gentes de Sernancelhe. A animar a festa, o grupo de Concertinas da Terra da Castanha, da freguesia de Sarzeda, interpretou temas populares, que trouxeram um colorido muito interessante à festa. Castanhas assadas, nos originais assadores móveis do Município, ocupavam-se do aroma que percorria o Exposalão. Ao fundo, os restaurantes encheram-se de comensais para degustar o cabrito com castanha e os demais pratos da gastronomia local.

Castanhas e vinho servido dos pipos à "vontade do freguês"

O dia 29, sábado, amanheceu com o sol a brilhar e o som estridente da castanha a estalar nas cestinhas com que as meninas vestidas á século XIX distribuíram as "quentes e boas" pelo Exposalão. O vinho que correu, "à vontade do freguês", dos dois pipos colocados no recinto também deixou marcas, mas nada de irreparável! Logo pela manhã, um conjunto de elementos do júri avaliou as melhores castanhas, concurso que o Município lançou com o propósito de incentivar os produtores a apostarem na qualidade e na distinção do seu produto. Em simultâneo, outro júri analisou os doces a concurso e as montras haviam sido já visitadas e analisadas para apurar do rigor com que as mesmas foram preparadas.

Ao início da tarde, e já com centenas de pessoas a percorrer o Exposalão, de expositor em expositor, irrompeu o Rancho Folclórico de Sernancelhe, um exemplo do rigor etnográfico com que os seus elementos encaram a cultura sernancelhense, nomeadamente as tradições, os ritos e os rituais agrícolas. Percorridos os corredores da Festa, subiram ao palco da "Terra da Castanha", onde protagonizaram uma atuação muito interativa e comunicativa com as centenas de pessoas que não arredaram pé ante as danças e os cantares. Vinho e castanhas ajudaram a animar a tarde, ainda que numa sala ao lado decorresse uma palestra com o tema "Declínio do castanheiro devido aos problemas fitossanitários: que novas perspetivas e meios de luta?", por Luís Miguel Martins, Prof. Auxiliar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Vila Real. Coordenada pelo Gabinete Técnico Florestal do Município de Sernancelhe, a ação reuniu dezenas de produtores da Denominação de Origem Protegida Soutos da Lapa. Ao longo da tarde, que dizer dos Cucos Malandros, da Tabosa da Cunha, dos seus tambores, concertinas e espalhafatosos gigantones com caras pouco amistosas!. Uma animação até bem tarde, com os restaurantes Flora e Casa do Avô a assegurarem as ementas de castanha.

A Banda Musical 81 de Ferreirim também ao palco da Festa da Castanha para um concerto de aproximadamente uma hora e uma homenagem ao ilustre Maestro Capitão Amílcar da Fonseca Morais. Militar de reconhecido mérito em diversas missões, destacou-se como maestro, compositor, júri de diversos concursos de filarmónicas, tendo sido condecorado em 31 de Maio de 1993 com a Medalha de Instrução e a Arte pelos "longos anos de trabalho, empenho e dedicação às Bandas". Carlos Manuel Ramos dos Santos, Presidente da Direção da Banda Musical 81, enalteceu e elogiou publicamente o Maestro Amílcar Morais, a ajuda que tem dado à Banda e o apoio concedido nos últimos anos. Sensibilizado, Amílcar Morais agradeceu e aproveitou para enfatizar a Banda de Ferreirim, a Direcção e os seus músicos por tudo o que fazem em prol da música e da cultura. Amílcar Morais, bem como Carlos Santos, orientaram duas das músicas interpretadas pela Banda.  

4º Passeio BTT "Rota da Castanha e do Castanheiro", um sucesso em toda a linha

Com concentração no Exposalão, o 4º Passeio BTT "Rota da Castanha e do Castanheiro", no dia 30, foi um sucesso em toda a linha. Não só pelo número de participantes inscritos, perto de 500, de todos os pontos do País, mas pela dinamização gerada quer na comunidade, nas diversas associações e empresas que patrocinaram o evento. Mantendo o carácter de passeio, que permitisse aos participantes contemplar a paisagem, admirar o património, respirar a natureza e participar na Festa da Castanha de Sernancelhe. A pensar no sentido familiar do passeio de BTT, o Município preparou o programa para acompanhantes, em que as mais de cem pessoas inscritas puderam usufruir dos equipamentos do Complexo Desportivo Municipal (sauna, banho turco, jacuzzi, ginásio e campo de ténis), ou optar por uma visita guiadas aos centros históricos de Sernancelhe e Lapa. Quem optou pelo BTT e vestiu a bonita camisola preparada pela organização (que é uma homenagem a Sernancelhe, Terra da Castanha), e a levou como recordação, guardará boas memórias da visita que nos fez. Não só pelos recantos da paisagem e pelo desporto, mas também porque a organização quis que prevalecesse o sentido familiar do Passeio "Rota da Castanha e do Castanheiro". Por isso, para o ano cá nos encontraremos.

A tarde de Festa da Castanha teve mais um momento etnográfico muito importante, trazido ao palco do Exposalão pelo Rancho Folclórico Colarni, das Arnas, freguesia do Concelho de Sernancelhe. Nascido da arte e do engenho das gentes daquela localidade da Serra do Pereiro, o Rancho é uma montra viva das artes e dos saberes ancestrais, sendo reconhecida a sua interpretação do ciclo do linho.

Por entre os stands, a circulação tornava-se cada vez mais difícil. Milhares de pessoas encheram o Exposalão de Sernancelhe e rodearam as barraquinhas, provando os sabores de cada aldeia e conhecendo a especificidade de cada comunidade. Sempre acompanhados das castanhas assadas e vinho tinto servido nas canecas de barro com a inscrição "Sernancelhe, Terra da Castanha", os visitantes viram ainda os tocadores de concertinas e fados à desgarrada "picados" com belas modinhas tradicionais.

A festa terminou já com a noite bem alta, fruto da mudança para a hora de inverno, mas com a alegria ainda bem presente. As portas do Exposalão encerraram perto das 23 horas, mas permanecem sempre abertas à cultura. Para o ano, cá nos encontramos para mais uma Festa da Castanha, nesta Terra da Castanha.


 

 

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