Ferreirim

União de Freguesias Ferreirim Macieira

Ferreirim é uma terra povoada de olivais e vinhas. O vale onde se posiciona é fértil e adaptado à agricultura, setor que ocupa grande percentagem da população. Já no tempo de D. Sancha Vermuiz, que deu foral a Fonte Arcada em 1193, Ferreirim, na altura freguesia daquele concelho, era a mais desenvolvida. Em 1855 ingressaria definitivamente no concelho de Sernancelhe, mas sem nunca perder o sentido comunitário dos seus habitantes, assim como os extensos terrenos, fundos e adequados à cultura de batata e milho. Hoje tende a abraçar o sector secundário, como exemplificam as pequenas indústrias de mármore, madeiras e produtos agrícolas situadas no Parque Empresarial do Picoto, mas preserva bons exemplos da preponderância de outros tempos. Por entre edifícios de traça requintada, antigos e brasonados, sobressai a Fonte Românica, classificada como Imóvel de Interesse Concelhio. O Santuário de Nossa Senhora da Consolação, de onde se desfruta uma vista privilegiada sobre a aldeia, é motivo de festa rija na aldeia no 3º domingo de agosto. A Igreja Matriz de Santo Estêvão, do século XVII, de granito amarelado e situada em lugar harmonioso, convida a uma visita. Existe ainda um Marco da Universidade de Coimbra, um Cruzeiro de Templete e várias alminhas que coexistem com desordenados muros de pedra. Mesmo no fundo da povoação descobrimos o conjunto escultórico que as mãos dos artistas do granito regionais criaram em homenagem aos 20 anos da Banda Musical 81 de Ferreirim. A antiga Escola Primária deu lugar ao moderno Conservatório Regional de Música de Ferreirim, contando com mais de duas dezenas de alunos, gerido pela Associação da Banda Musical 81. Ferreirim encabeça hoje a União de Freguesias de Ferreirim e Macieira.

 

Macieira

Macieira - União de Freguesias de Ferreirim e Macieira

É a Serra da Zebreira, a quase mil metros de altitude, que guarda no seu seio a pequena povoação de Macieira, terra  de centeio e hoje de castanha. Foi ela quem, no tempo do Concelho de Fonte Arcada, serviu de pousio a diversas fortalezas, em volta das quais se terão travado importantes lutas entre cristãos e árabes. Macieira cativa pela singeleza do seu casario granítico, sombrio e pesado, voltado para os temporais de norte. As ruas são tortuosas e íngremes. Percorrendo-as descobrimos a arquitetura rural que tão bem caracteriza esta aldeia de gente laboriosa e humilde. Encontramos também duas fontes de água fresca e límpida de onde sobeja água em quantidade para formar um ribeiro, que é engrossado por outro, o Vidual, e se encontram no Távora, em Riodades. Perto deste curso de água a bonita imagem dos pombais torna-se mais real. São dois exemplares da economia local, que merecem ser salvaguardados e, quem sabe, aproveitados para fins turísticos. Os mais idosos, sempre disponíveis para dois dedos de conversa, não descuram as orações diárias na Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Apresentação. O local onde está situada é deslumbrante, permitindo apreciar os limites da Beira e os princípios do Douro. Descendo algumas ruas, por entre casas povoadas de árvores de fruto e silvas derreadas de amoras, chegamos ao Solar e à Capela de S. Domingos, datados do século XVIII, um bonito exemplar da arquitetura nobre, hoje restaurado.

Faia

Freguesia da Faia

A Faia é, do grupo das aldeias ribeirinhas do Concelho, a que mais deve a sua história recente à vontade do homem em represar as águas do rio e delas retirar energia. Na década de 60, Faia teve de fugir das margens e deslocar toda a povoação para o monte. Debaixo de água ficaram os solos mais produtivos e o impressionante conjunto de sepulturas escavadas na rocha, que denunciam a antiguidade da aldeia. Hoje, o Centro Interpretativo da Aldeia da Faia promove essa visita pela memória dos habitantes locais, através de imagens, de vídeos, de utensílios e, como complemento, pode partir à descoberta da história no percurso pedestre criado junto ao Távora. A Igreja de São Martinho também não passou ao lado da construção da Barragem e teve de ser erguida no alto, fazendo-se rodear de pequenas habitações em granito que serviram de albergues aos funcionários da EDP que aí trabalharam. Passado o sobressalto, a população procurou novas parcelas para cultivar e construiu mais longe do leito do rio. Recente, mas também sinal do aproveitamento dos recursos naturais, é a Zona de Lazer e Recreio, bem enquadrada paisagisticamente. Mais longe das águas, num pequeno monte pejado de pinheiros e oliveiras, situa-se a Capela do Senhor da Aflição. É ela que olha pela Faia. A aldeia retribui com uma celebração em sua honra no terceiro domingo de Agosto. Na Quinta da Alagoa, hoje repleta de pomares, ainda se pode apreciar o local onde terá nascido a lenda do Rei Chiquito.

Chosendo

 

Freguesia de ChosendoChosendo é uma aldeia pousada numa encosta rochosa, formada pelo cabeço de Santa Bárbara e a Cova da Moura, ramificando-se pela Serra da Zebreira. Chosendo orgulha-se de exibir as suas habitações tradicionais, as suas fontes, o conjunto de sepulturas antropomórficas e os vales onde se desenvolvem as culturas agrícolas. Motivo de veneração é a Santa Bárbara, hoje símbolo da aldeia, com santuário pousado em ponto alto da serra, de onde se avista um cenário de rara beleza.

Fecundado pelo Ribeiro de S. Miguel, que entra no Távora mais adiante, o vale começa no ponto mais alto da aldeia, de onde se avista a Serra da Estrela, o planalto da Lapa, Caria, Leomil e Borralheira. É de lá que a Capela de Santa Bárbara protege os habitantes locais das trovoadas. No centro da povoação de Chosendo encontramos a bonita igreja matriz dedicada a S. Miguel, rodeada de casas rústicas de cantaria enegrecida pelo tempo. O Senhor do Calvário, venerado no terceiro domingo de agosto, é o padroeiro de freguesia.

 

Cunha

Freguesia da CunhaCunha é a aldeia típica da serra. Destaca-se pelo casario de traça humilde, mas admirável, construído com granito da região. Recortadas em plena serra do Pereiro, as habitações encaixam harmoniosamente na encosta e enriquecem uma zona muito produtiva e fértil, formada pelas colinas de Santo Estêvão a norte, Coitada a nascente, Cabeço do Roldão e Queimadas a sul. A paisagem, prenhe de soutos de castanheiros e eiras com palheiros, alguns pombais, denota a presença do homem e a sua acção na freguesia de Cunha, aldeia incapaz de apagar as marcas da Ordem de Malta, que aqui tinha uma das suas mais produtivas localidades. A Igreja Matriz de S. Fecundo, erguida bem no centro da povoação, ostenta talha do século XVIII e duas pinturas sobre tábua representando S. Francisco e Sto. António. O retábulo maneirista da capela de S. João Baptista é uma preciosidade, assim como as tábuas pintadas com S. Francisco e Sta. Catarina. As capelas de Santo Amaro e Santo Antão atraem muitos romeiros à aldeia, para pagamento de promessas. O Solar dos Amados, com uma bela capela dedicada a Nossa Senhora, encerra todo o historial de uma das famílias nobres da terra. A época medieva também está bem representada, com várias sepulturas antropomórficas encontradas no Chão das Vinhas e na Tapada do Poço.

 
Tabosa da Cunha

Tabosa da Cunha - Freguesia da Cunha

É a localidade anexa da Cunha, mas que nunca assim foi entendida pois a sua projeção e impeto coletivo é muito elogiado. Situa-se na colina do Monte Pereiro e é caracterizada pela impressionante inclinação das suas ruas, ficando o casario diposto em patamares. Uma dessas artérias conduz ao alto da serra. O mesmo alto onde se desenha a linha tortuosa e sombria do cume do Pereiro, admirando-se o serpentear da Ribeira da Tabosa lá ao fundo. O ponto em que o horizonte é o limite para a contemplação. A guardar este local está a solitária capelinha de Santo Estêvão, que é padroeira da localidade de Tabosa. A povoação homenageia em plena serra o seu padroeiro com festa rija. É uma localidade muito dinâmica e com forte sentido comunitário.

Carregal

Freguesia de CarregalCarregal é berço de Aquilino Ribeiro. Terra dominada por uma paisagem repleta de verde, que quase oculta a nascente do Rio Aviasca, admiramos a localidade onde nasceu um dos maiores escritores do século XX. A casa lá está, por detrás do Pátio, que recebeu o nome do autor de “O Malhadinhas”. O pequeno núcleo urbano de Carregal guarda, religiosamente, a capelinha de Santo Amaro e a Igreja Matriz do Espírito Santo. Rodeada de velhos arciprestes, abre-nos as portas para que admiremos o seu interior em talha dourada e o requinte da sua construção. Ao lado sobressai o Pórtico dos Sanhudos, com brasão, por onde passamos rumo ao aglomerado de casas de pedra onde Aquilino nasceu. É uma construção humilde, típica de lavrador, tal como a descrição detalhada que o escritor faz em “Cinco Reis de Gente”. Carregal é aldeia plena de história e um exemplo de comunidade constituida por mais duas localidades: Aldeia de Santo Estêvão e Tabosa do Carregal.

 
Aldeia de Santo Estêvão.

Freguesia de Carregal - Aldeia de Santo Estêvão

As habitações de granito negro, envoltas numa paisagem típica de serra, pedregosa e agreste, mesclam-se com construções modernas, de planta importada. A própria Igreja, construída no século XX, nasceu da vontade do povo e empenho pessoal do então pároco da freguesia, Lucas Ribeiro, que esteve na comunidade durante mais de cinquenta anos. Os lameiros, os terrenos agrícolas e florestais, os pastos e as forragens abundam, sendo o leite e a pecuária garantias de casa farta e dinheiro na algibeira. A povoação exibe ainda a sua capelinha de Santa Quitéria, levantada no século XVIII, ao lado de um solar de 1745. A Capela de Santo Estêvão é outro exemplo da devoção do povo, que se uniu para a reedificar. A olhar para o lazer, Aldeia de Santo Estêvão aproveitou as águas que brotam da encosta da Serra da Lapa e represou-as na zona de lazer da Fonte Limpa, um espaço de convívio e de encontro das gentes da aldeia.

 
Tabosa do Carregal

Freguesia de Carregal - Tabosa do Carregal

É a terra do Convento de Nossa Senhora da Assunção e dos fálgaros. Fundado em 1690 por D. Maria Pereira, com o objectivo de abrigar monjas descalças ou recoletas que professassem as regras de S. Bento com devoção e piedade, foi o verdadeiro impulso ao crescimento da povoação de Tabosa. O granito é o elemento dominante em toda a construção e também nas habitações que o rodeiam. Imponente, o convento conheceu a ruína com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834. A cerca desabou, assim como grande parte dos motivos mais interessantes do edifício. Escaparam a Torre do Mirante, o Pórtico e a Igreja que hoje é utilizada pelo povo para as normais cerimónias religiosas. Em 1850, à data da morte da última freira, e depois de uma história atribulada, o convento encerrou. Na povoação há capelas, uma fonte de mergulho e uma casa fidalga. Mas o que realmente sobressai do casario desta encosta pedregosa, fértil em urzes e sargaços, é o aroma dos fálgaros, a especialidade criada pela recolhidas do Convento de Nossa Senhora da Assunção à base de ovos, farinha e queijo. Merece a pena uma visita demorada à Tabosa, em especial ao Convento, hoje visitável e onde é possivel perceber toda a história e vivência daquele espaço religioso.

Arnas

 Freguesia de Arnas


Circundada por pedregosos cerros, com um riacho quase imperceptível a atravessá-la, Arnas é terra de história e monumentos, como testemunha o Castro de Murganho e a igreja seiscentista, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que se levanta no cimo da aldeia. O teto impressiona por causa da pintura com uma invulgar iconografia: um dragão é ferido com um raio de fogo que lhe é atirado por um menino e que o faz estrebuchar de sofrimento. A gente das Arnas acredita no poder curativo da água que brota do rochedo contíguo à Capela de S. Pedro, à Conquinha, dizendo que faz bem às vistas. Nunca seca este nascente misterioso, em que a água passa de covinha em covinha em ritmo sincronizado. Tão misterioso como a Lapa da Moira, um gigantesco abrigo natural que os pastores utilizavam quando havia temporal. A vista a partir deste ponto é fantástica. A Serra revela-se por inteiro, o colorido do rosmaninho e da bela-luz transformam-se em aroma e as pedras formam um cenário mais parecendo ovelhas a pastar! Na aldeia sobressai, imponente e misteriosa a Coluna em granito, plantada junto à capela de S. João, que parece homenagear o arrojo dos homens que ousaram erguê-la e aqueles que por aqui enfrentam o frio dos rigorosos Invernos. Frio que espantam com as robustas lareiras construídas no interior das casas típicas de perfeitos blocos de granito amarelo.  

 

Também os sernancelhenses modelaram a História

Sernancelhe foi berço de gente ilustre das artes, da ciência e da cultura. Destas terras do interior do País, de onde se avista a Estrela e o Marão, denominadas de "Terras doi Demo" pelo Mestre escritor Aquilino Ribeiro, partiram jovens que carregaram às costas as suas origens pelos quatro cantos do mundo. Homens que, pela sua personalidade, conseguiram, cada um à sua maneira, influenciar a história. António Ribeiro Saraiva, Aquilino Ribeiro, Bernardo Xavier Coutinho, João Fraga de Azevedo, Padre João Rodrigues e Abade Vasco Moreira foram algumas das figuras nascidas em Sernancelhe e que fazem parte do lote das personalidades célebres da nossa terra.

 


 António Ribeiro Saraiva António Ribeiro Saraiva - No século XIX, nascia em Sernancelhe António Ribeiro Saraiva, o diplomata, jornalista, político e escritor que acompanhou D. Miguel no exílio e com ele regressou em 1828, tendo despenhando importantes cargos diplomáticos, de entre os quais se destaca o de Secretário da Embaixada de Portugal em Londres, precisamente durante o reinado de D. Miguel. Fidalgo da Casa Real, bacharel formado em Direito e em Cânones pela Universidade de Coimbra, nasceu em Sernancelhe a 10 de junho de 1800, e faleceu em Paddock House, St. Peters, no condado de Kent, Inglaterra, a 15 de dezembro de 1890, contando 90 anos de idade. Era filho do desembargador da Casa da Suplicação, e conselheiro José Ribeiro Saraiva e de D. Francisca Xavier Constantina de Morais e Macedo. A Câmara Municipal de Sernancelhe homenageou-o no dia 1 de novembro de 1990, durante uma sessão solene nos Paços do Concelho, em que Teresa Mónica, da Biblioteca Nacional, a quem está confiado o espólio de Ribeiro Saraiva, proferiu uma palestra verdadeiramente inédita e que revelou a vida e obra deste sernancelhese. O Município emitiu ainda uma medalha comemorativa, atribuiu o nome de Ribeiro Saraiva a uma rua e publicou uma brochura com a palestra de Teresa Mónica.

Aquilino Ribeiro Aquilino Ribeiro – Conhecido como O Mestre, Aquilino Ribeiro é um dos maiores escritores portugueses do século XX. Nasceu na freguesia de Carregal, Sernancelhe, em 1885, e foi batizado na igreja de Alhais, concelho de Vila Nova de Paiva. Estudou no Colégio da Senhora da Lapa, fez Filosofia em Viseu e frequentou Teologia no Seminário de Beja, curso de que desistiu no segundo ano. Inconformado por natureza, mudou-se para Lisboa, em 1907, onde intentou começar carreira no jornalismo. As controversas atividades políticas levariam Aquilino Ribeiro à cadeia, de onde se evadiu. Exilado em Paris, frequentou os cursos de Filosofia e Sociologia da Sorbonne, onde recebeu ensinamentos dos melhores mestres da época. No campo literário estreou-se, em 1913, com a colectânea de contos “Jardim das Tormentas”. Da sua vasta obra, destacam-se “A Via Sinuosa”, “Terras do Demo”, “Volfrâmio”, “Aldeia”, “Cinco Reis de Gente” e “Malhadinhas”. Aquilino Ribeiro faleceu em 1963, mas deixou ao país um retrato impecável de uma época e de uma região. Impressões que as Terras do Demo jamais esquecerão, sendo as suas obras autênticos roteiros turísiticos que nos permitem hoje conhecer, de forma exaustiva, a alma das gentes da Beira.

 Bernanrdo Xavier da Costa Coutinho Bernardo Xavier da Costa Coutinho – Investigador, crítico de arte, tradutor, Bernardo Coutinho nasceu na freguesia de Ferreirim em 1909. Ordenado sacerdote, foi nomeado cónego da Sé Catedral do Porto. Licenciou-se em Ciências Históricas e em Letras Românicas e doutorou-se pela Universidade de Lovaina com a tese “As Lusíadas e os Lusíadas”. Professor no Seminário Maior do Porto e na Universidade Católica, em Lisboa, foi também professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Provido no cargo de Conservador do Museu de Soares dos Reis, viu reconhecido o seu trabalho quando foi eleito sócio da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa de História. Da sua obra destacam-se publicações como “Acção do Papado na Fundação e Independência de Portugal”, “Camões e as Artes Plásticas” e “A Medalhística Camoniana do Século XVIII aos nossos dias”. Bernardo Xavier Coutinho faleceu em 1987, deixando cerca de meia centena de obras de mérito.

 João Fraga de Azevedo João Fraga de Azevedo – Natural de Sarzeda, Fraga de Azevedo licenciou-se em medicina pela Universidade de Coimbra. Selecionado para médico da Armada Portuguesa fez, entretanto, o curso na Escola de Medicina Tropical. Considerado um dos maiores cientistas da medicina tropical portugueses, representou o país em conferências e congressos internacionais. Publicou perto de quatro centenas de trabalhos científicos, individuais ou em colaboração, divulgadas por todo o mundo da ciência. Mesmo à distância, Fraga de Azevedo não se esqueceu de Sernancelhe e terá usado os seus bons ofícios para a criação do Colégio do Infante Santo, em 1966/67. Foi distinguido com altas condecorações em Portugal, África, Brasil, Alemanha, Espanha e Itália. Fraga de Azevedo faleceu em Lisboa em 1977 com 68 anos.

Padre João Rodrigues Padre João Rodrigues – Nasceu em Sernancelhe em 1560 ou 1561. Com apenas 14 anos saiu de Portugal em direção à Índia. Em 1580 chegou ao Japão por intermédio da Companhia de Jesus. Ao serviço da Companhia dedicou-se ao ensino da gramática e do latim. Alguns anos mais tarde concluía os estudos em Teologia em Nagasaki. Foi a Macau para ser ordenado sacerdote e, tendo regressado ao Japão, tornou-se intérprete, servindo como agente intermediário nas compras feitas às naus estrangeiras. Conhecido como comerciante, diplomata e político, Padre João Rodrigues acabaria expulso do Japão no ano de 1610, por razões ainda não esclarecidas. Regressado a Macau, iniciou uma série de investigações com vista ao conhecimento das origens das comunidades cristãs ali estabelecidas desde o século XIII. Considerado um clássico para o conhecimento do Japão, Pe. João Rodrigues foi o autor da primeira gramática da língua japonesa e escreveu a “História da Igreja no Japão”. Apontado como um vulto da cultura universal, faleceu em Macau em 1633, sendo ainda hoje motivo de estudo e um símbolo do Japão.

Abade Vasco Moreira Vasco Moreira –  Ficou conhecido como o autor da primeira monografia sobre o Concelho. Editada em 1929 com o título “Terras da Beira – Sernancelhe e seu Alfoz”, é o livro que ainda hoje nos dá toda a informação histórica, geográfica, etnográfica e linguística sobre o concelho. Sensivelmente na mesma época, deu à estampa outra obra maior da sua carreira como orador, arqueólogo, historiador, literato e escritor: a “Monografia do Concelho de Tarouca”. A Abade deve-se também a organização do Museu de Lamego, do qual seria o primeiro diretor. O trabalho de Vasco Moreira revela-se notável porque, mesmo sem recursos bibliográficos, conseguiu legar obras muito completas e importantes para a afirmação das respetivas comunidades. Faleceu em São João de Tarouca em 1932. Em sinal de homenagem, o Município de Sernancelhe, a sua terra natal, deu o nome de Abade Vasco Moreira à sua Biblioteca Municipal, tendo posteriormente sido dadas à estampa outras obras da sua autoria, nomedamente em poesia.

Como Chegar a Sernancelhe

mapa_2Sernancelhe situa-se na Região Centro-Norte de Portugal, em plena Beira Alta, na parte nordeste do distrito de Viseu, ao qual pertence administrativamente.

Atravessado no sentido sul-norte pelo rio Távora, um dos efluentes do Douro, Sernancelhe estabelece fronteira com os concelhos de Trancoso, Penedono, Aguiar da Beira, Moimenta da Beira, Vila Nova de Paiva, Sátão e São João da Pesqueira.

 O Concelho de Sernancelhe é servido por duas Estradas Nacionais: a EN 226, que liga Celorico da Beira a Lamego; e a EN229, que liga Viseu a São João da Pesqueira. Para quem venha da A25 e  A24, chegar a Sernancelhe demorará cerca de quarenta minutos. Cinquenta minutos é também o tempo que nos separa da sede de distrito, Viseu.

 

 

  

 

 

 

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 “Comeram-lhe à tripa forra carniça refogada, cozida, assada, de porco, de vaca, de chibato, carniça para todos os paladares. O arroz estava de se trocar por um prato dele a imortalidade, o cabrito, rechinado no espeto e picadinho do sal, até fazia cócegas no céu-da-boca. Quem bem come bem bebe, acabaram a janta enfrascados e lerdos como patos na engorda”

(Aquilino Ribeiro, Terras do Demo - 1919).

 

Presunto TadicionalÉ a matança do porco que tempera os sabores da gastronomia regional. As famílias reúnem-se em torno desta tradição invernal e aproveitam para degustar as filhoses de sangue e outras vísceras. Os torresmos, a carne entremeada, as fêveras assadas e o fígado frito com batata cozida são os pratos eleitos. É também graças ao porco que se prepara o fumeiro para consumir durante o ano seguinte: morcelas, farinheiras, moiras, chouriças e salpicões secam ao lume brando das lareiras, ao calor da giesta e do pinheiro recolhidos nas serras durante o Verão. Para a salgadeira vão ainda os presuntos, as pás e os pés do porco. Devidamente acondicionados, são retirados do sal alguns meses depois para receberem uma camada de pimento. Uma fatia de presunto, servida sob uma toalha bordada à mão, é obrigatória em todas as casas do Concelho. Nos restaurantes da região confeccionam-se pratos como a farinheira com espigos e batata cozida; o cozido à portuguesa e os pés de porco com couve ripada e vinagre, acompanhados de batata cozida ou estalada.

 

Os pratos regionais variam consoante a imaginação de cada casa. Muitas iguarias reflectem a capacidade das gentes do Concelho em debelar as adversidades a que a região foi votada, o clima e o relevo particulares. O isolamento moldou também as mentes e incutiu a ideia de que tudo o que a terra dá tem de ser aproveitado ao máximo. “Os povos do concelho de Sernancelhe, encerrados em estreitos vales montanheses, ou alastrados na planície, viveram, no seu início, dos rebanhos e dos produtos da agricultura. O tempo e o progresso modificaram os hábitos e os costumes, mas não lhes modificou o ambiente ou o meio da sua acção e desenvolvimento. A montanha dar-lhes-á sempre o trato dos rebanhos que lhes fornecem o leite, a carne para a alimentação e a lã para o vestuário; enquanto que a planície, onde os frutos e os grãos abundam, fá-los-á agricultores, sem desprezarem o peixe dos rios, num dos quais, o Távora, o há em considerável quantidade”. (Vasco Moreira, Terras da Beira – 1929)

 

paoFoi com a serra e com o rio que os sernancelhenses aprenderam a conviver à mesa. Séculos de proximidade com a natureza resultaram em especialidades como as enguias de barril, acompanhadas do famoso trigo da Lapa; os peixinhos do rio em molho de escabeche; ou o pão de trigo com queijo fresco de cabra produzido na encosta da serra da Lapa. Do Távora brotam ainda petiscos muito apreciados nos restaurantes à beira rio, destacando-se as trutas fritas ou em molho de escabeche.

 

Sernancelhe é apaixonado pelo bacalhau cozido com grão e batata, condimentado com salsa ripada e cebola picada. O prato é muito procurado nos restaurantes do concelho e faz parte de quase todos os menus, o que o transforma numa iguaria enraizada na cultura local devido à forte migração que sempre caracterizou estas terras.  Confecciona-se também outro prato muito consumido no Concelho: o bacalhau com batata a murro assada em forno de lenha. O segredo para o paladar inconfundível está na excelsa qualidade do azeite de Sernancelhe que “embebeda” as batatas.

 

Hoje come-se o cabrito em muitos restaurantes da região. Contam os mais idosos que nem em tempo de festa na aldeia muitas casas de família tinham direito a uma perna de cabrito! Nos tempos que correm, não há festa nem restaurante que não tenham como prato de eleição o cabrito.

 

cavacasA doçaria está directamente ligada a dois sectores da sociedade que marcaram de forma indelével a história do Concelho: o povo e a religião. O povo, deitando mãos dos parcos recursos que possuía, aproveitava os pedaços de carne e cozia as gostosas bolas nos fornos comunitários das aldeias. Fazia fritas e filhós por altura das festas na aldeia, cozia bolo de azeite e aproveitava os ovos e o leite para preparar leite-creme e arroz doce. As receitas passaram de mão em mão e permanecem intactas.

 

Nos conventos e mosteiros tiveram origem dois dos mais apreciados exemplares da doçaria sernancelhense: fálgaros de Tabosa do Carregal e as cavacas de Freixinho. Longe vai o tempo em que no Convento de Nossa Senhora da Assunção, em Tabosa, se confeccionavam os famosos fálgaros dentro das quatro paredes do último mosteiro feminino do país. Os doces de pão de trigo feitos com queijo fresco deixaram de sair do forno com a regularidade da época, mas enchem as mesas de muitas casas de Carregal por altura das festas. A iguaria, que fez as delícias do Mestre Aquilino Ribeiro, é acompanhada de vinho tinto, de preferência servido em panelos de alumínio. Outrora ofertas de luxo para abades e doutores, as Cavacas de Freixinho são hoje sobremesa requintada feita à base de trigo, ovos e azeite, depois coberto por uma calda de açúcar. Ao contrário dos fálgaros, é confeccionado com regularidade, principalmente em Freixinho e Vila da Ponte, sendo vendido para todo o país.

 

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Em plena capital da castanha, este fruto tem honras de rainha. É utilizado na cozinha como complemento alimentar, mas, em tempos substituiu a batata. Cozidas, assadas, em pudim ou em compota, são múltiplas as formas de saborear a castanha de Sernancelhe.

 

Presidente
vponte

Filipe José Cruz Pinheiro PSD

 

Morada e Contactos

Junta de Freguesia de Vila da Ponte

Largo da Praça

3640 - 307 Vila da Ponte

Telefone: 254 595 170

Fax: 254 595 170

email: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

 

Horário de Atendimento ao Público

 Segundas-feiras, das 9:30 horas às 11:00 horas.

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