Aquilino Ribeiro faleceu há 57 anos. Sernancelhe orgulha-se de ser a terra natal deste símbolo das letras portuguesas

Assinalam-se hoje, dia 27 de maio, os 57 anos da morte de Aquilino Ribeiro, o Mestre. Considerado um símbolo da Beira e umas das grandes referências da literatura portuguesa, é dono de uma obra que explica o País, e muito particularmente as terras do interior onde nasceu e cresceu e que viria a classificar de “Terras do Demo”.

Epíteto que explica, de facto, as suas origens e o meio onde se inspirou para escrever livros únicos, pedaços de um território que são as peças do puzzle da nossa identidade. As “Terras do Demo” eram agrestes, isoladas e esquecidas dos poderes vigentes, mas detentoras de gente com alma imensa, com garra e com uma vontade enorme em superar as adversidades do quotidiano.

Aquilino percebeu e experimentou esta maneira de ser e de estar dos seus conterrâneos, nunca regateando o convívio com os mais humildes, com os trabalhadores da terra, de quem ouvia e registava as suas histórias e sabedoria. Mas Aquilino queria mais, muito mais. Queria que esta memória da gente mais genuína perpassasse os tempos e servisse de guia às gerações vindouras. O feito foi alcançado com as suas obras literárias e com o legado riquíssimo de que hoje tiramos partido quando procuramos explicações para nossa evolução histórica e cultural.

A forma brilhante como escreveu e descreveu o nosso povo foi possível apenas porque ele era o Mestre, o Mestre das letras, o mais habilitado conhecedor das suas Terras do Demo. Foi a partir delas que deu eco às grandes causas; que deu notoriedade às urgentes mudanças económicas e sociais que permitissem mudar a vida das gentes desta região. Obras como “Volfrâmio” e “Quando os lobos uivam” são exemplos de como Aquilino sentia aquilo que os seus conterrâneos sentiam. Ele compreendia o drama de quem tinha de contestar o Estado, de quem se insurgia, de quem tomava atitudes desesperadas em defesa da terra, da honra e do sustento da família. Era um conhecedor profundo do seu meio e do seu tempo.

Nascido a 13 de setembro de 1885, no Carregal, Concelho de Sernancelhe, conseguiu o feito de radiografar, como ninguém ousou fazer, toda esta imensa região. Através das suas descrições hoje sabemos qual a nossa gastronomia mais genuína, as nossas tradições mais valiosas, o nosso património, a paisagem, a fauna e a flora, o nosso modo de vida há um século atrás, as nossas raízes e a nossa memória. Aquilino deu-nos, de certa forma, a nossa identidade.

É por isso fundamental que reconheçamos que, sem a herança de Aquilino, Sernancelhe seria, efetivamente, um Concelho mais pobre. Não teríamos noção sequer da grandiosidade destas “Terras do Demo”, onde os povos travavam amizade com os lobos, onde a vida era difícil, mas feliz. Aquilino Ribeiro será sempre o homem que ensinou os beirões a serem persistentes e lutadores, a nunca vergarem e a procurarem sempre mais.

“Alcança quem não cansa” era o lema de vida de Aquilino Ribeiro, e talvez tenha sido este o seu modo de estar na vida. Aquilino Ribeiro foi um exemplo para todos nós.

Em jeito de homenagem, voltamos a publicar o vídeo que resume a última grande ação dedicada a Aquilino Ribeiro, no Concelho de Sernancelhe, em novembro de 2019. Os Colóquios a ele dedicados, e que marcaram um ano intenso de comemorações do Centenário da obra Terras do Demo, trouxeram ao nosso concelho ilustres portugueses como Nuno Crato e David Justino, antigos ministros da Educação, João Soares, antigo Ministro da Cultura, Aquilino Machado, neto do escritor, e perto de uma dezena de académicos do nosso País, que proporcionaram brilhantes intervenções sobre a vida e obra de Aquilino Ribeiro.

Aquilino Ribeiro faleceu há 57 anos

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