A antiguidade de Sernancelhe é notável. Júlio Rocha e Sousa, autor do livro “Forais da Vila de Sernancelhe”, descreve a origem deste Foral da seguinte forma: “Teve a vila de Sernancelhe dois Forais, o Antigo dado por Egas Gudesendiz notável homem rico da Riba Douro e de Sernancelhe e suas terras, que as teria herdado da sua primeira mulher Unisca Viegas prima de Egas Moniz. Este foral o mandou executar, a 26 de outubro do ano de 1124 e veio a ser confirmado por D. Afono II, no ano de 1220. Trata-se de um longo documento cujo original se encontra na Torre do Tombo no maço 12 dos forais Antigos n.º 3, fólios 23 e 24.”
O símbolo maior desse tempo é a Igreja Românica de Sernancelhe, enquadrada no Centro Histórico e numa praça que seria então o centro de toda dinâmica da Vila de Sernancelhe.
Contudo, nestes quase nove séculos volvidos, é notório que Sernancelhe passou por um longo processo de continuada evolução, que teve a sua origem no século XII e chegou até aos nossos dias. Os séculos XVIII e XIX as alterações mais substanciais, sendo neste período que mais se notou a preponderância concelhia, em que chegámos a ter quatro vilas: Sernancelhe, Fonte Arcada, Lapa e Vila da Ponte.
Hoje todas convergem para a atual forma do Concelho de Sernancelhe mas, em certo momento da história de Portugal, foram reconhecidas pela sua preponderância, ganharam estatuto e autonomia, o que lhes moldaria o património, a vivência e as gentes. Fonte Arcada é disso um bom exemplo, hoje uma terra plena de monumentalidade e onde a aura medieval permanece bem vincada na Igreja e na Casa da Loba. Conheceu o primeiro foral em 1193, atribuído por D. Sancha Vermuiz.
A Lapa é outro grande exemplo de um Concelho que nunca parou e cuja ação contínua era notada no País. Ganhou estatuto de Vila em 1740, concedido por D. João V, claramente devido ao impulso que os Jesuítas imprimiram ao lugar e pela dimensão Mundial do Santuário da Lapa. O património administrativo desse tempo áureo, como a Casa da Câmara e Cadeia e o Pelourinho ainda permanecem e são motivo de orgulho para o Concelho.
Vila da Ponte foi igualmente Vila, distinção que ganhou no ano de 1661, concedida por D. Afonso VI. A praça é ainda hoje um lugar de rara beleza, onde a Casa da Câmara, o Pelourinho e os solares são elementos reveladores de tempos áureos daquela aldeia ribeirinha do Távora.
HONRAR A HISTÓRIA QUE NOS EXPLICA
Hoje, Dia do Município de Sernancelhe, é portanto um bom dia para que olhemos para o nosso percurso e sintamos orgulho. Orgulho em ser terra de história, de património e de tradição. Mas também porque na atualidade somos a terra de Aquilino Ribeiro, do Santuário da Lapa e da Castanha.
Somos um território extenso, de montanha, onde na linha do horizonte avista-se o Marão e a Estrela. No fundo do vale, é o rio Távora que domina a paisagem, serpenteando, apressado, a caminho do Douro. Abençoada pela natureza, Sernancelhe distingue-se como “Terra da Castanha”. Séculos de ligação ao castanheiro moldaram a paisagem das aldeias e das serras. Soutos frondosos e manchas centenárias da variedade Martaínha, como a Seara, no sopé de Nossa Senhora de Ao Pé da Cruz, são referência no país.
É por aqui que passam os trilhos do BTT e do pedestrianismo, como que seguido as passadas dos caminheiros de Santiago que por estas veredas da serra alcançavam a Vila de Sernancelhe depois de ultrapassada a Ponte do Abade, com as suas albergarias, e o Mosteiro da Ribeira.
Sernancelhe é Terra de fé, e a quase mil metros de altitude, no planalto, ergue-se o Santuário da Lapa, um dos mais antigos da Península Ibérica, e que guarda uma das mais belas páginas da difusão do culto no País e no Mundo, sendo indelével a marca deste lugar na evangelização das nações aquando dos Descobrimentos.
Aquilino Ribeiro, o Mestre das Letras portuguesas do século XX, é outra referência maior da nossa terra. Nasceu no Carregal, estudou no Colégio da Lapa e relatou nas suas obras brilhantes descrições dos lugares, das pessoas, e da nossa maneira de ser e estar, identidade que ainda hoje nos define e nos distingue no País.
Hoje celebramos os quase nove séculos de história que colocam Sernancelhe entre as terras mais antigas de Portugal.