Faia, a primeira Aldeia portuguesa submersa com a construção de uma Barragem, tem Centro Interpretativo

Faia, a primeira Aldeia portuguesa submersa com a construção de uma Barragem, tem Centro Interpretativo

Na década de 60 o Rio Távora era represado, pela primeira vez, pela barragem do Vilar. Obra do Estado Novo, tinha como propósito "trazer o progresso" a estas terras e com ele a esperança de uma vida melhor para os habitantes das aldeias ribeirinhas. O progresso que havia sido apregoado nunca correspondeu às expetativas dos habitantes e, a somar à frustração, ao fechar-se o paredão, as águas submergiram, quase na totalidade, a aldeia da Faia. Ficaria conhecida como a primeira aldeia portuguesa a ser "sepultada" debaixo de água e, na memória dos faienses, que perderam as melhores parcelas agrícolas, as casas e os haveres, ainda perdura o slogan: "Faia, a vítima do progresso".

Sem nunca se resignarem, os habitantes da Faia arregaçaram mangas e subiram o monte. Afastaram-se da água e, em redor da também trasladada Igreja, nasceu uma nova Faia e uma Escola Primária, com o mesmo estilo arquitetónico do Bairro da EDP, designação que ganhou e que se manteve com o passar dos anos. A antiga Faia, que ficou debaixo de água, e a nova aldeia, que hoje convive orgulhosa do seu rio e da sua excecional posição geográfica, estão agora à vista de todos no Centro de Interpretação, inaugurado no dia 11 de agosto.

Com o custo aproximado de 200 mil euros, comparticipados em 70 por cento pelo PRODER – Subprograma 3 – Medida 3.1 e 3.2., e em 30 por cento pelo Município de Sernancelhe, o antigo edifício da Escola Primária alberga um espaço museológico que mostra a Faia do antes e do depois da construção da Barragem do Vilar e procura ser um local de encontro com a memória e a história de uma aldeia de gente determinada e lutadora.

Mantendo a estrutura do antigo edifício escolar, o projeto do arquiteto sernancelhense Paulo Albino Ribeiro dos Santos inovou ao desenhar um espaço inspirado na Barragem e no elemento água. Aliás, a água está presente na cobertura do bloco circular e assegura o efeito mais dinâmico de todo o conjunto. Esta ampliação é construída em betão armado à vista, de forma elíptica, com uma cobertura em vidro que suporta uma lâmina de água que, em conjunto com um som de fundo relacionado, cria a sensação de se caminhar pelo interior de uma barragem. É neste espaço que está exposto todo o espólio recolhido ao longo dos anos e que relacionam as duas aldeias (a de antes e a de depois) da barragem, como motivos fotográficos, relatos, notícias, vídeos, etc.

Para além do espaço museológico, onde se pretende perpetuar as memórias da antiga aldeia e as suas vivências, promover a etnografia e o artesanato locais, com especial destaque para a latoaria, o Centro Interpretativo dispõe ainda de auditório e arquivo e tem a ambição de ser também um espaço gerador de atratividade turística e cultural para a Freguesia de Faia e para o Concelho de Sernancelhe.

Descrito pelo Presidente da Câmara Municipal como um "projeto inovador", o Centro Interpretativo da Aldeia da Faia conjuga a capacidade e o saber do arquiteto sernancelhense Paulo Albino Santos com a vontade em fazer de Sernancelhe um espaço respeitador da memória do seu povo e, com ela, gerar mais valias para o território. Lembrou, a este propósito, que se deve "ao Vereador Carlos Silva a ideia e a implementação deste projeto" e, ao Vereador Carlos Santos, reconheceu, "a capacidade de ter garantido financiamento para a obra".

À semelhança do pioneirismo evidenciado com Lamosa, onde a Rede Natura 2000 potenciou a criação de um conjunto de investigações, estudos e construção de equipamentos, a Faia dispõe de um espaço onde é possível educar, em especial as escolas e os visitantes, para uma época muito peculiar da história de Portugal.

António Caiado, Presidente da Junta de Freguesia, Mestre Latoeiro e também peça chave para que se conheça a evolução histórica da Faia, lembrou o seu percurso à frente dos destinos da aldeia e classificou a Construção do Centro Interpretativo como um desejo e um sonho que se concretizam.

Trilho da Faia permite conhecer, no terreno, a Faia antiga e a atual

Para isso, ao dispor dos visitantes do Centro Interpretativo está a vertente interpretativa, mas também um monitor com explicações do logotipo criado propositadamente para aquele espaço, uma exposição dedicada ao Mestre António Caiado, latoeiro natural da Faia, vários monitores para visualização dos filmes temáticos: "Mestre Caiado" e "Aldeia da Faia", mesa interativa para visualização de mapas e pontos de interesse do Concelho, salas destinadas ao estudo e investigação, auditório polivalente, arquivo e informação e documentação relativa ao Centro e ao percurso pedestre "Trilho Aldeia da Faia".

Aliás, percorrendo este trilho vai ser possível contactar com os elementos que descrevem e testemunham a Faia antiga e a Faia nova. Motivos de interesse não faltam, destacando-se a necrópole de sepulturas que a descida das águas, no verão, torna visível.

 


 

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