Museu da Faia vai explicar a história da aldeia antes e depois da construção da barragem, há 48 anos

A aldeia da Faia é detentora de uma história singular. Por força da construção da Barragem do Vilar, em 1965, todo o povoado foi deslocado para um ponto mais elevado. Debaixo de água ficaram algumas construções e muitas memórias que ainda perduram. Agora, e aproveitando o edifício da antiga primária, vai ser construído o Centro de Interpretação da Faia, obra orçada em perto de 200 mil euros, comparticipados em 60 por cento pelo PRODER – Subprograma 3 – Medida 3.1 e 3.2.

O projeto e a assinatura dos contratos de adjudicação e consignação da obra decorreram na tarde de 2 de setembro, no edifício da Junta de Freguesia de Faia. Assistiram ao momento as pessoas da localidade e muitas outras que quiseram testemunhar a primeira etapa da construção de um museu que procurará fazer história.

Feita a apresentação do que será o Centro Interpretativo pelo autor do projeto, o arquiteto sernancelhense Paulo Albino dos Santos, o pequeno filme com imagens tridimensionais deixou antever uma obra tão bela quanto valiosa para a preservação da memória da comunidade faiense.

 

"INTERREGNO DE VALORES"

António Caiado, Presidente da Junta de Freguesia, agradeceu "que nos tivessem proporcionado todas as condições para que hoje aqui pudéssemos estar a levar a cabo este momento". "Este projeto é muito importante porque estamos a abrir um caminho novo, de memórias e recordações para a Faia", lembrou o autarca, que falou em dia histórico para a aldeia, já que "o Centro Interpretativo visa promover o conhecimento sobre a aldeia antiga com o objetivo de preservar a sua história, a sua cultura e a sua memória".

Obra material, mas essencialmente imaterial, o autarca lembrou que está em causa a memória de gerações de pessoas, a sua perpetuação e o legado que vai ser deixado para os vindouros. O "interregno de valores que vivemos", disse António Caiado, faz com que tenhamos de "garantir o equilíbrio possível do que herdamos para sermos parte do desenvolvimento".

Satisfeito porque a obra vai avançar, António Caiado agradeceu ao Município o empenho particular na elaboração da candidatura, no acompanhamento de todo o processo e na concretização deste equipamento por todos desejado. "Quero reconhecer publicamente o empenho da Câmara, na pessoa do senhor Presidente e senhores vereadores para que fosse possível o Centro Interpretativo da Faia", terminou.

 

CANDIDATURA COM MAIOR MÉRITO

João Miguel Oliveira Santos, em representação da Associação Beira Douro, co-financiadora do projeto, agradeceu o convite para participar na sessão de apresentação, evidenciou a importância histórica e cultural do projeto, o resgate da memória que a mesma pretende levar a cabo e elogiou a candidatura como a melhor entre todas as que foram apresentadas pelos municípios do Douro Sul. "A candidatura do Centro Interpretativo da Faia foi a que obteve maior mérito no concurso a que se candidatou, entre as nove apresentadas por municípios do Douro Sul". "Mais do que funcionalizar uma escola, é um espaço de memória. Mostrará a Faia antes de 1965, um modo de vida que já não existe e será importante para a população escolar e para cativar visitantes e turistas", desejou.

 

UMA OBRA DE AFETO

"Um povo sem memória é um povo sem história", começou por dizer José Mário de Almeida Cardoso, Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe, referindo-se ao Centro Interpretativo da Faia como uma obra que, pelo seu simbolismo, "neste tempo de interregno de valores, como referiu o Sr. Caiado, é um acontecimento".

"Temos lançado obras de maior vulto, em termos financeiros, mas poucas geraram tanto afeto como esta". Recordando a Faia como a "Mártir do Progresso", assim apelidada nos anos 90, porque a construção da Barragem deixou submersa uma das mais fecundas zonas agrícolas do Concelho, José Mário Cardoso descreveu a aldeia como sendo "encantadora, que condensa o trabalho e visão do seu presidente da junta e o carinho nela depositado pelo Município de Sernancelhe".

"Esta obra simboliza também o trabalho profícuo do Sr. Vereador, Dr. Carlos Silva, porque sem ele esta obra não era feita", garantiu o edil, que falou de um projeto "que a todos congrega" e que, em termos arquitetónicos, "consegue concentrar num espaço tão pequeno tanto simbolismo".

A finalizar, José Mário Cardoso lembrou "a importância da estabilidade política como forma de promover o desenvolvimento das comunidades". Apontou o caso da Faia como elucidativo, e constatou que "Sernancelhe tem tido a felicidade de ter autarcas com muitos anos de serviço e contar também com jovens já com este espírito de trabalho e de esforço, referindo-se aos vereadores do município, os impulsionadores do projeto do Centro Interpretativo da Faia". "Vamos portanto estar seguros destes jovens; não vamos embarcar em discursos e promessas que não se concretizam; neste momento, esta obra condensa os valores do Município de Sernancelhe, a sua forma de estar, de trabalhar e já com a garantia de que tem jovens que levam estes projetos adiante", concluiu.

 

ATRATIVIDADE TURÍSTICA

Preservar o edifício, manter a essência do edifico escolar, perceber o antes e o depois da barragem, criar um espaço museológico como forma de perpetuar as memórias da antiga aldeia e as suas vivências, promover a etnografia e o artesanato locais, com especial destaque para a latoaria, e criar condições para que a Faia exiba mais um local de atratividade turística e cultural, são os objetivos do equipamento.

Da responsabilidade do arquiteto sernancelhense Paulo Albino Ribeiro dos Santos, o projeto assenta, primordialmente, na preservação do edifício, das alvenarias e pedra, nas estruturas de madeira e no espaço envolvente. Por isso, a proposta de arquitetura visa manter a forma e a estrutura original da antiga Escola Primária complementando-a com um programa de cariz teórico, como são a sala, o auditório, o arquivo.

A outra parte do edifício existente, em forma de alpendre, manterá também a traça original e fará a ligação escola ao museu. A ampliação que vai acontecer, com um conceito, materiais e formas totalmente distintas, será inspirada na barragem, e será construída em betão armado à vista, de forma elíptica com uma cobertura em vidro que suportará uma lâmina de água que, em conjunto com um som de fundo relacionado, criará a sensação de se caminhar pelo interior de uma barragem. É aqui que ficará exposto todo o espólio recolhido ao longo dos anos que relacionam as duas aldeias (a de antes e a de depois) da barragem, como motivos fotográficos, relatos, notícias, etc.

 


 

Imprimir

0
0
0
s2smodern
powered by social2s