Sessão intitulada

Sessão intitulada "Aquilino: Pátria e Liberdade", juntou Lima Bastos, Marinho e Pinto, D. Manuel Martins e Eugénio Santos no Centro Municipal de Artes

D. Manuel Martins: "Sernancelhe é um tesouro"

O cartaz das comemorações do 25 de abril, em Sernancelhe, contou com outro momento alto, desta vez no Centro Municipal de Artes. Depois de visitadas as exposições "32 anos, 32 perguntas" e "31 fotografias do 25 de Abril", ambas cedidas pelo Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra, aguardava-se, com expetativa, a sessão dedicada a "Aquilino Ribeiro: Pátria e Liberdade", tendo como intervenientes D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, Eugénio Santos, Professor Catedrático da Universidade do Porto, e Manuel de Lima Bastos, distinguido pelo Município com a Medalha Municipal de Mérito.

Sendo Aquilino Ribeiro natural de Sernancelhe e um dos expoentes máximos da defesa da pátria e da busca da liberdade, o tema encaixou na perfeição no 25 de abril que se comemora como o dia da liberdade. Manuel de Lima Bastos, investido no papel de moderador, apresentou os elementos da mesa e confirmou que pátria e liberdade "são, de facto, duas das traves mestras de Aquilino Ribeiro", valores que o mestre natural de Carregal entendia como supremos e de que nunca abdicou durante toda a sua vida.

Com uma plateia de mais de 300 pessoas, o Centro Municipal de Artes aguardou, com ansiedade, pela intervenção de D. Manuel Martins. O cenário envolvente tinha plasmados nas fotografias a preto e branco os momentos mais importantes da revolução dos "cravos", e, neste contexto, o Bispo Emérito de Setúbal não hesitou em afirmar que "é de primeira evidência que não pode haver pátria a sério sem liberdade". Saudou as entidades locais, agradeceu ao Dr. Manuel de Lima Bastos, o grande responsável pela sua vinda a Sernancelhe, e confessou o seu reconhecimento pela "oportunidade de me encontrar mais profundamente com o grande Aquilino Ribeiro; passei por ele noutros tempos, mas mal nos ficamos a conhecer; com o Dr. Lima Bastos foi-me dada a oportunidade de conhecer este gigante da literatura portuguesa".

"PARA LIMA BASTOS, VIR A SER A SERNANCELHE É COMO IR À TERRA SANTA"

Aludindo à cerimónia que decorreu momentos antes no Salão Nobre, D. Manuel Martins classificou-a como "muito construtiva; dou os parabéns à Câmara de Sernancelhe pela liturgia tão cheia de dignidade como as coisas decorreram". Quanto à atribuição da Medalha Municipal de Mérito a Lima Bastos, o Bispo Emérito de Setúbal disse "ter sido muito bem concedida. Sernancelhe é uma espécie de Terra Santa para o Dr. Lima Bastos. Para ele, vir a Sernancelhe é fazer uma peregrinação". E "Sernancelhe é um tesouro; este pedaço de território é um tesouro; as maravilhas que aqui existem, que aqui estão plantadas, que aqui estão por descobrir, a maravilha que tudo isto foi para que tudo isto aqui pudesse acontecer", acrescentou, referindo-se ao património visível um pouco por todas as freguesias do nosso Concelho.

Procurando situar o homem no meio, D. Manuel Martins concluiu que "esta terra só pode dar gente de valor; esta terra explica Aquilino Ribeiro". E se o temperamento de Aquilino Ribeiro pode explicar as suas obras e o seu percurso de vida, D. Manuel Martins lembrou uma figura do Porto, determinante na luta contra a ditadura: o Bispo do Porto. "A História dos bispos do Porto é toda ela de defesa da dignidade humana". Por isso, concluiu, à Igreja compete ajudar as pessoas a descobrirem a sua dignidade, a sua grandeza, a não se deixarem manipular".

"VALE A PENA LUTAR PELA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA"

António Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, foi o convidado que se seguiu. Mobilizado para Sernancelhe por Manuel de Lima Bastos, seu apoiante desde "a primeira hora", Marinho Pinto saudou o colega que descreveu como "um combatente de causas que tornou Mestre Aquilino Ribeiro mais conhecido, mais notável". Sobre D. Manuel Martins, que conheceu apenas na véspera, enalteceu "a nobreza de caráter e a dimensão da solidariedade humana que assumiu em toda a sua vida".

A propósito do tema "Aquilino: Pátria e Liberdade", Marinho e Pinto disse que "o homem deve ser livre para realizar fins históricos; a liberdade serve para fazer progredir a sociedade". Reportando-se à sua atividade como jornalista e como advogado, o Bastonário afirmou ainda "estar comprometido com o princípio da verdade". E sobre os valores de abril, reconheceu, com desagrado, que "vivemos uma época em que a mentira se institucionalizou".

Assegurando que "a liberdade é essencial ao progresso da história", o 25 de abril, "em muitos aspetos, não está a ser respeitado no nosso país. Nós temos que exigir o respeito pela liberdade de todos". E perguntou: "O que é que fizémos do 25 de Abril, dos ideais, das ilusões e da utopias que nos trouxe?". "Vale a pena lutar pela dignidade da pessoa humana, pela verdade e pela liberdade", sentenciou.

"UMA TERRA É AQUILO QUE FOR A SUA GENTE"

Eugénio dos Santos, Professor Catedrático Jubilado da Universidade do Porto, especialista em História, lembrou que "as Terras do Demo têm uma identidade muito própria. Aquilino Ribeiro tentou trazer isso à consciência dos seus concidadãos", referindo-se às suas obras e aos temas retratados pelas mesmas.

"A memória é a marca maior dos povos e Aquilino Ribeiro bebeu aqui esses valores na região que o viu nascer", constatou, acrescentando que "esta terra vive a sua identidade, projetada no passado, no seu património, nos seus monumentos". Por isso, concluiu, "uma terra é aquilo que for a sua gente, a língua, a paisagem, os princípios, os valores, tudo".

Procurou, depois, enquadrar Aquilino no tempo em que viveu, no contexto histórico, social e económico que caracterizava Portugal e o Mundo, e justificou que "Aquilino viveu num período de algum acabrunhamento nacional, e que ele percebeu que os seus conterrâneos estavam abaixo do limite da sua dignidade e que deveriam reerguer-se. Foi o que fez com a sua obra".


 

 

Imprimir

0
0
0
s2smodern
powered by social2s